O comandante do posto territorial das Velas, na ilha de São Jorge, Açores, foi denunciado à GNR e ao Ministério Público (MP) por factos que, a confirmarem-se, poderão configurar crimes de favorecimento, abuso de poder e peculato, entre outros. Uma das denúncias acusa o 1.º sargento Tiago Serra de se ter posto na escala de serviço, no verão de 2019, para receber suplemento de comando, quando estaria a gozar férias e até ausente da ilha.
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Este caso, em que o comandante estaria de férias em Setúbal, terá sido atestado por um adjunto, que inclusivamente o terá questionado sobre o mesmo, e é objeto de um procedimento disciplinar e de inquérito-crime, em ambos os casos ainda pendentes. Outra queixa diz que Serra deu indicação, em reunião do pessoal, para não serem autuados funcionários das câmaras e juntas de freguesia locais, quando os mesmos fossem apanhados em infração. O objetivo era, segundo conta ao JN um militar, "manter uma boa relação institucional".
O sargento também foi denunciado por, alegadamente, ter cedido cópias de chaves do quartel a guardas que já não estavam aqui em funções. Noutro caso, terá ordenado a um militar que acondicionasse droga apreendida no cacifo onde este guardava a sua arma.
O desaparecimento de um cofre de ferro à prova de fogo, com cerca de 200 quilos, do posto das Velas também foi participado ao MP. Este caso, porém, já foi arquivado, com base numa declaração do Comando Territorial dos Açores, que refere que o cofre foi abatido em 2012 e, em 2018, cedido gratuitamente a um cidadão local. Ficou por esclarecer como se determinou a pessoa a quem seria doado e porque só foi doado seis anos depois de sair do posto.
Denúncias "excessivas"
Contactado pelo JN, Tiago Serra não quis prestar declarações. "Há muita matéria nessas denúncias em segredo de justiça. Ou não. Não faço ideia. Lamento imenso, mas não vou continuar a falar consigo. Espero que tenha sido esclarecedor". E desligou o telefone.
Já a GNR, sem nada esclarecer sobre os procedimentos disciplinares em curso, referiu que tem recebido denúncias "reiteradas e excessivas", "inicialmente identificadas e recentemente sob a forma de anonimato, sobre o Comando Territorial dos Açores, o seu funcionamento e o seu efetivo". Garantiu que as trata com "rigor, transparência, cuidado e isenção".
Provador de queijo
A GNR puniu Tiago Serra por ser provador da Confraria do Queijo de São Jorge sem autorização prévia da GNR. Recebia 25 euros por cada prova, fazendo duas por mês.
Autuante era outro
Um militar diz que foi obrigado a assinar autos sobre condutores fiscalizados pelo próprio Tiago Serra.