O comandante-geral da GNR, Rui Veloso, reuniu-se, na tarde desta quarta-feira, com os militares que integram o Grupo de Intervenção de Ordem Pública (GIOP). O encontro aconteceu na sede desta unidade especial da Guarda, na Pontinha, onde o discurso do tenente-general causou diferentes sensações.
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Houve quem interpretasse as palavras do máximo responsável da GNR apenas como uma chamada de atenção para os deveres especiais destes militares, mas também houve quem as percebesse como uma ameaça de expulsão do serviço. Em Penafiel, onde está sediada a única companhia fora de Lisboa, há ainda quem tema a extinção desta subunidade se não houver militares suficientes para responder às necessidades do jogo de quinta-feira, entre o Vizela e o Benfica.
O JN apurou que a reunião foi marcada de urgência para o início da tarde desta quarta-feira e pôs frente a frente o comandante-geral da GNR e os militares do GIOP. Num curto discurso, Rui Veloso alertou para os deveres especiais desta valência, lembrando que, por ser um dos braços da Unidade de Intervenção, o GIOP é uma força de reserva não só da Guarda, como do país. E os seus elementos têm, portanto, deveres especiais em comparação com os colegas a trabalhar nos postos.
Várias fontes ouvidas pelo JN, referem que alguns membros do GIOP receberam a preleção somente como um alerta, efetuado num contexto extraordinário e no âmbito das funções próprias de um comandante-geral que tem responsabilidade direta sobre o grupo.
Outros testemunhos, contudo, afirmam que muitos militares sentiram-se ameaçados e coagidos a não apresentar baixa médica nos próximos tempos, pois, se o fizessem, seriam expulsos da unidade. “Foi um claro condicionamento”, dizem, recordando que, no último sábado, o comandante do GIOP, major-general Pedro Oliveira, já se tinha deslocado propositadamente a Vizela, onde foi adiado o jogo Vizela – Sporting, para pressionar os seus homens a manterem-se em funções.
Militares em Penafiel temem extinção da única companhia no Norte
Para o presidente da Associação dos Profissionais da Guarda, César Nogueira, a reunião na sede do GIOP “entende-se”. “Mas criou um sentimento de ambiguidade entre os homens. Alguns entenderam apenas como uma cautela e um momento para apalpar o pulso aos militares, numa altura difícil e de luta. Mas outros alegam que foi uma ameaça. E se foi está mal e não concordamos”, sustenta.
O GIOP é, como o nome indica, uma unidade de recurso e que só atua nos casos em que há necessidade de acabar com episódios violentos e repor a ordem pública. Está classificado no terceiro nível operacional e, nos jogos de futebol de maior dimensão, os seus militares permanecem no exterior do estádio, numa posição de retaguarda. Só entram no recinto se houver confrontos ou desacatos.
O GIOP está dividido em quatro companhias, três das quais situadas em Lisboa. A restante tem como base o quartel de Penafiel e é aqui que o receio é maior. Depois do que aconteceu no sábado, há quem tema, com base no discurso do tenente-general Rui Veloso, que esta subunidade seja extinta, com os homens a terem de regressar a Lisboa, se algum dos seus militares apresentar baixa médica e não estiver disponível para o próximo jogo em Vizela.
Confrontada pelo JN com a reunião na Pontinha e com o discurso do comandante-geral, fonte oficial da GNR limitou-se a explicar que, “perante espetáculos desportivos desta natureza, executa um planeamento prévio, ajustado e que garanta o emprego de várias valências e especialidades, com o objetivo de garantir a segurança do evento”.