Comando condenado por mortes de dois recrutas queixa-se de ser "bode expiatório"
Ricardo Rodrigues, instrutor do curso de Comandos em que morreram os recrutas Dylan Silva e Hugo Abreu, afirma que o dia em que foi lida a sentença do seu caso foi "dantesco", porque a Justiça "condenou um inocente cegamente, numa busca por um bode expiatório para apresentar uma condenação pública".
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O Tribunal da Relação de Lisboa puniu, no dia 6 de março, dois militares do Exército a penas efetivas de prisão pela morte de dois recrutas dos Comandos em 2016. O médico responsável pela equipa sanitária do curso, Miguel Domingues, foi condenado a sete anos e meio de prisão, enquanto Ricardo Rodrigues, instrutor do curso, foi punido com cinco anos e três meses de cadeia. O Tribunal decidiu assim reverter a decisão de primeira instância, em janeiro de 2022, na qual ficaram em liberdade.
Numa publicação nas redes sociais, esta terça feira, Ricardo Rodrigues diz que o dia da decisão foi "dantesco" para a Justiça, Forças Armadas, para os Comandos e para Portugal.
"Fechou-se os olhos a 312 sessões de tribunal, onde a maior dificuldade esteve em explicar a "não militares" o que é o treino militar, e todas as práticas castrenses que caracterizam a instituição militar desde há gerações", pode-se ler na publicação partilhada amplamente nas redes sociais.
Ricardo Rodrigues faz referência ao cumprimento da instrução por guiões aprovados superiormente e critica a fundamentação dos Juízes Desembargadores. "Ignoram provas testemunhais, relatórios periciais, autópsias e regem-se única e exclusivamente por convicções pessoais ou convicções...".
No longo texto em que questiona "que justiça é esta", o militar diz que esta é "uma luta ingrata para todos aqueles que contra tudo e todos batalham diariamente em busca de um resultado justo e da verdade, mas que infelizmente tarda em aparecer".
O militar conclui que o querem "anular", mas diz: "Quero que saibam que sempre serei maior que qualquer condenação". Refere que "o maior crime será sempre o de condenar um inocente. Todos somos maus numa história mal contada".
Terra em vez de água
Ricardo Rodrigues foi condenado por ter privado vários formandos de água, incluindo Hugo Abreu, em cuja boca colocou terra quando o recruta já estava a desfalecer e a pedir assistência.
"Um instruendo é gente e gente não se maltrata assim. Pior: a colocação de terra apanhada do chão, o que revela um efetivo desprezo pela sua dignidade pessoal e, pior ainda, quando a vítima já estava a cargo da equipa sanitária, por estar exausto e desidratado, apresentando lesões neurológicas, delirante, a cuspir e babar-se", criticaram os juízes desembargadores no acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa.
O médico responsável pela equipa sanitária do curso, Miguel Domingues, foi condenado porque, segundo a Relação de LIsboa, "resolveu abandonar o campo de tiro", deixando Dylan Silva e Hugo Abreu "sem apoio médico" e dando apenas ordem para que estes fossem limpos para serem assistidos no hospital. Vinte minutos depois, Hugo Abreu morreu no local.