Gurvinder Singh, comerciante indiano com dois supermercados e um restaurante nos Olivais, em Lisboa, diz que a sua empresa, Happy Selection, foi usada sem a sua autorização por um associado de Ruben Oliveira, conhecido por "Xuxas", para importar fruta exótica na qual era dissimulada cocaína.
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No início do julgamento da rede de "Xuxas", Gurvinder considerou ter sido enganado devido à sua incapacidade para lidar com a burocracia na alfândega, entregando os dados aos arguidos. Contou ainda ao tribunal, em Lisboa, que no dia em que um carregamento com 354 quilos de cocaína em nome da sua empresa foi apreendido pelas autoridades, sem o seu conhecimento, Ruben lhe disse através de mensagem para fugir.
"Conhecia Rúben Oliveira desde 2009 e ele apresentou-me um amigo, Luís Ferreira, em 2021, que importava fruta do Brasil a preços competitivos. Assim fiz negócio com ele", disse Gurvinder, que também é arguido no processo. A fruta era importada via aérea e, de acordo com o arguido, era Luís quem tratava da desalfandegagem. "Eu não percebia a burocracia da alfândega, era o Luís que tratava disso e depois era-me entregue a fruta".
Em tribunal, Gurvinder disse que encomendou três paletes de papaia em 2021 e que vendeu todo o produto, mas confrontado com o uso dos dados da empresa para importar fruta exótica na qual era escondida droga, afirmou que nada sabia, que não era ele o responsável pelas encomendas.
"Dei os meus dados ao Luís para uma ficha de cliente na importação dos produtos, não sei por que razão usou os meus dados para importar produtos que não autorizei". Um dos produtos foi açaí, que ficou a apodrecer no meu armazém. Liguei várias vezes ao Luís e não ia buscar até que pedi ao Rúben para falar ele com o Luís. Aí, o Luís foi buscar", acrescentou.
Uma das encomendas feitas com os dados da empresa de Gurvinder foi apreendida pelas autoridades à saída do aeroporto, a 14 de fevereiro de 2022, e resultou na detenção de cinco arguidos. Tratavam-se de sete toneladas de papaia, na qual estavam dissimulados 354 quilos de cocaína, avaliados em 17 milhões de euros.
Nesse dia, de manhã, Gurvinder diz ter recebido a visita no seu armazém em Odivelas de um homem que mais tarde soube ser José Cabral, que dizia estar a mando de Luís Ferreira com ordens para levantar sete toneladas de papaia no aeroporto. "Eu disse que não tinha feito qualquer encomenda, mas ele referiu que foi feita em meu nome por ser mais barato e se tratar de papaia fresca, então aceitei. Eu não tinha dinheiro para pagar na alfândega, mas o senhor Cabral lá o arranjou, 4500 euros dizendo que eu depois pagava".
Gurvinder e José Cabral alugaram uma carrinha, a juntar a duas que o comerciante tinha, para levantar o produto. A juíza quis perceber por que razão o arguido não estranhou "que mandassem vir encomendas e não as fossem buscar, como as paletes de açaí que estavam a estragar no armazém". Gurvinder respondeu que Luís Ferreira dizia que tinha a mãe doente e assim esperava sempre pelo arguido. No dia do levantamento das sete toneladas de papaia, a mãe de Luís Ferreira tinha falecido. "Eu não queria incomodar o Luís, concordei em levantar o produto e depois logo falava com o Luís", disse, em tribunal.
Foi William da Cruz e José Cabral, arguidos no processo, que a foram buscar. Em tribunal, William da Cruz conta que estava no local errado à hora errada quando foi abordado pela polícia, ao volante da carrinha após sair do aeroporto.
"Nesse dia, antes de ir para o aeroporto", contou o arguido, "o José Cabral viu-me no Bairro de Angola e chamou-me para o acompanhar no levantamento de uma encomenda ao aeroporto. Somos amigos, confiei nele, e depois íamos lanchar a Odivelas, onde ia treinar por volta das 19 horas", disse William.
O arguido foi intercetado numa carrinha onde estava droga dissimulada em fruta exótica, que chegou a Portugal através da empresa de Gurvinder. "Eu não fazia ideia do que estava lá dentro, confiei no José Cabral porque ele fazia trabalhos de distribuição e fiz-lhe o favor de o ajudar. Depois, deixava-me em Odivelas a tempo do treino". William disse que não entrou no aeroporto, apenas conduziu uma carrinha, e que na altura em que foi abordado pelas autoridades estava à espera de José Cabral para irem para Odivelas. "Estava tranquilo e ver stories no Instagram".
A sessão desta manhã no Tribunal de Lisboa foi interrompida para almoço e continua na parte da tarde com a continuação da audição de Gurvinder Singh.