Mulher é condenada a oito anos e meio de prisão por atentar três vezes contra a vida do companheiro. O médico que a ajudou beneficia de pena suspensa.
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Diego e Ana conheceram-se em 2008, em Montechoro. Ele tinha 23 anos, ela 35. Ele vinha do Brasil, ela de duas relações fracassadas e com dois filhos menores. Apaixonaram-se e, em menos de dois anos, estavam casados. Quatro anos depois, Ana tentou matar Diego por três vezes. Mas não conseguiu. Diego sobreviveu a três tiros, uma pancada na cabeça e dois envenenamentos. Ana foi condenada a oito anos e meio de prisão pelo Tribunal de Portimão, mas recorreu. Agora, o Supremo Tribunal de Justiça rejeitou o derradeiro recurso. Em breve, Ana deverá começar a cumprir pena.
Ao longo de quatro anos, o amor de Ana por Diego transformou-se em ódio. E a mulher decidiu acabar com o casamento de modo irrevogável: matar o marido. Segundo a sentença recentemente proferida, e a que o JN teve acesso, Ana decidiu recrutar a ajuda de um cúmplice, cuja identidade não chegou a ser apurada, e montou uma cilada ao marido.
Cinco tiros na garagem
Três meses foi o espaço de tempo em que foram cometidos os três atentados contra a vida de Diego. Numa vez, Ana agiu sozinha. Nas outras, recorreu a terceiros. Este tipo de crime, quando consumado, tem uma moldura penal que vai de 12 a 25 anos de prisão. Esta é a pena mais grave que pode ser aplicada em Portugal.
Na noite de 26 de dezembro de 2014, Diego foi até à garagem do prédio. O assassino estava à sua espera com uma pistola de calibre 6.35 mm. Disparou cinco tiros. Acertou com três: um no tórax, um numa omoplata e um no dorso. Antes de fugir, o cúmplice ainda lhe deu uma pancada na cabeça.
Ao mesmo tempo, a mulher cumpria a sua parte do plano. Às 1.45 horas, no Facebook, pediu a uma amiga que fosse a sua casa, pois o marido ainda não regressara e não atendia o telemóvel. Depois, simulou a descoberta do telemóvel dele no quarto e ligou para os amigos dele a perguntar se sabiam onde estava.
Pelas 6 horas da manhã, Diego foi encontrado, a 300 metros de casa, por uma patrulha da GNR. Sobrevivera ao ataque e tinha-se arrastado para fora da garagem, em busca de auxílio. Deu entrada de urgência no Hospital de Faro. O plano falhou, mas Ana não desistiu.
Inseticida no hospital
A 30 de janeiro de 2015, quando Diego estava prestes a receber alta médica, Ana administrou-lhe organofosforados, um composto tóxico que costuma ser usado em inseticidas. Ela sabia do potencial mortal deste químico, porque, alguns anos antes, o seu padrasto tinha-o usado para se suicidar.
Diego entrou em coma, mas não morreu, porque a intoxicação foi detetada precocemente. Mesmo assim, o homem teve de regressar para o serviço de Cuidados Intensivos.
Diego voltou a recuperar. E, em meados de março do mesmo ano, estava novamente prestes a ter alta. Ana pediu então ajuda a Jorge, um médico seu conhecido. Ter-lhe-á dito que Diego era violento e que temia pela sua vida.
O médico de família, de 63 anos, acreditou e, usando a desculpa de que a mulher precisava de um sítio para o marido continuar os tratamentos, pediu à diretora do serviço do Hospital de Faro para atrasar a data da alta clínica. O motivo, na realidade, era outro.
Cinco comprimidos
A 26 de março, Jorge vestiu a sua bata de médico, dirigiu-se até ao serviço de Fisiatria do hospital e deu cinco comprimidos de benzodiazepinas a Diego, uma quantidade capaz de o matar. Mais uma vez, não veio a falecer, porque estava em meio hospitalar e foi prontamente socorrido.
Diego acabaria por ter alta hospitalar em abril de 2015. Saiu de casa e foi residir com a mãe. Não houve mais atentados à sua vida. Ana e o médico foram detidos e acusados de tentativa de homicídio.
A 21 de fevereiro de 2020, Ana foi condenada no Tribunal de Portimão a oito anos e meio de prisão por três crimes de assassinato na forma tentada. Jorge levou cinco anos, mas de pena suspensa. A defesa recorreu, alegando insuficiência de prova e a violação do princípio "in dubio pro reo", até ao Supremo Tribunal de Justiça, mas, a 15 de setembro de 2021, este tribunal decidiu manter a pena.