O homem acusado de ter matado e desmembrado o namorado em abril de 2023, no Cadaval, confessou esta segunda-feira, no início do julgamento, ter esquartejado o cadáver, mas negou ser o responsável pela morte de Valdene Mendes, com quem, garantiu, mantinha uma relação há quase 13 anos.
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"Ele morreu à minha frente, não sei se foi overdose", afirmou Luís Lopes, de 52 anos, alegando que, quando atingiu a cabeça de Valdene Mendes com uma marreta na cama, este "estava morto há horas". O objetivo do ataque seria, tal como o desmembramento do corpo, esconder a identidade do namorado, porque "iam sempre", atendendo ao histórico conflituoso que tinham, acusá-lo do homicídio.
À data do crime, o casal vivia junto há cerca de duas semanas.
O Ministério Público sustenta que foi uma marretada na cabeça, alegadamente desferida pelo arguido quando a vítima dormia após uma discussão, que causou a morte de Valdene Mendes, brasileiro de 47 anos. Luís Lopes, português e antigo funcionário de uma morgue, estaria convencido de que o namorado, que se divorciara da mulher meses antes, estaria consigo somente por dinheiro.
Numa fase anterior do processo, o arguido admitira ter sido o autor do homicídio, tendo chegado a participar numa reconstituição do crime. Confrontado esta segunda-feira pelo coletivo de juízas com essas declarações, Luís Lopes manteve a sua versão mais recente.
Dívida originou discussão
Luís Lopes e Valdene Mendes conheceram-se em 2007, quando este último pediu ajuda ao arguido para legalizar a sua situação em Portugal. Em dezembro de 2010, voltaram a encontrar-se. "O romance começou aí", afirmou, acrescentando que a relação continuou mesmo depois de o cidadão brasileiro se ter casado com uma mulher.
Em 2022, o casamento chegou ao fim e, a 10 de abril de 2023, os dois homens passaram a viver juntos. Valdene Mendes estaria então endividado e obrigado a pagar pensão de alimentos às duas filhas. Dezasseis dias mais tarde, discutiram, em casa, por causa de um crédito que este contraíra para comprar um carro e no âmbito do qual tinha de pagar 900 euros.
A certa altura, a vítima terá dito ao namorado para se afastar, porque lhe metia "nojo". "Senti-me muito humilhado", disss, esta segunda-feira, o arguido: "Ele esteve comigo 14 anos só por interesse". Terá sido logo depois, ao tentarem reconciliar-se, que a vítima se terá, segundo Luís Lopes, drogado e morrido, sem a sua intervenção. Questionado sobre o porquê de não ter chamado o INEM, respondeu que "sabia que ele estava morto".
"Macabro" e "hediondo"
"Nunca me passou pela cabeça [matá-lo]", insistiu o arguido, que, a 27 de abril de 2023, decidiu então esquartejar Valdene Mendes. "Ia bebendo vinho, para ganhar coragem", frisou. A certa altura, terá tido a ajuda de uma outra pessoa, que se recusou a identificar. Um dia mais tarde, foi, acompanhado, espalhar as partes do corpo por um eucalitpal, no Cadaval.
O relato não convenceu as juízas do Tribunal Criminal de Loures, que, mais do que uma vez, expressaram a sua estupefação perante a versão apresentada. "Também não percebo, estava bêbedo", retorquiu o arguido, que classificou de "macabro" e "hediondo" o homicídio de que está acusado pelo Ministério Público. O único arguido no processo responde, simultaneamente, por um crime de profanação de cadáver.
O julgamento prossegue a 8 de abril de 2024, com a audição de testemunhas. O caso foi descoberto depois de, a 2 de maio de 2023, populares terem descoberto um saco com uma parte do corpo de Valdene Mendes. Luís Lopes tem estado a aguardar o desenrolar do processo, por decisão judicial, em prisão preventiva.