Contabilista diz que desapareceram quatro milhões de euros da mutualista Glória Portuguesa
A ex-presidente de uma conhecida associação de socorros mútuos do Porto, que está a ser julgada por desvio de mais de 200 mil euros da instituição, também poderá ter de explicar onde param os quase quatro milhões do respetivo "fundo permanente", que está a zeros.
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Ricardina Ribeiro, que foi destituída, em 2020, da presidência da associação mutualista Glória Portuguesa, responde por crimes de abuso de confiança e falsificação de documentos, relacionados com uma verba de 200 mil euros. Mas, esta terça-feira, na segunda sessão do julgamento, ficou a saber-se que a mutualista poderá ter perdido muito mais.
Os quase quatro milhões de euros que aparecem nos relatórios de contas como "Fundo Permanente", afinal, só existem no papel. Na realidade, o "fundo" está a zero.
Hoje, a contabilista da associação afirmou que sempre acreditou nos documentos que a arguida lhe apresentava para a contabilidade e mediante os quais, além das contas correntes, ajudava na elaboração dos relatórios anuais a aprovar em Assembleia Geral. Nunca desconfiou de falsidades.
Sobre os quatro milhões de euros supostamente guardados no "fundo permanente", explicou que eram "verbas" documentadas, que passavam de "um exercício para o outro", mas que, confessou, nunca viu ou sequer teve acesso a extratos bancários que as confirmassem.
O que a contabilista sabe, como outras testemunhas que a antecederam, é que só na assembleia geral de 2019 se perceberam do "buraco", e que, confrontada, a arguida não respondeu e abandonou a reunião magna muito enervada. "Nunca mais apareceu", recordou.
Na primeira sessão, a arguida confessou ter transferido dinheiros da mutualista para contas pessoais e admitiu que o procedimento "foi errado", mas fê-lo apenas para "facilitar" na administração da instituição e "nunca" para proveito próprio.