Uma auxiliar da educadora de infância acusada de obrigar crianças a comer sopa com vómito e de as sujeitar a outros maus tratos, quando era funcionária no Centro Social de Esgueira, em Aveiro, confirmou, esta quinta-feira, ter visto um menino amarrado à cadeira com um lençol e ter socorrido uma menina que se engasgou.
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A educadora Graça G., que começou esta semana a ser julgada no Tribunal de Aveiro, responde por nove crimes de maus tratos.
Esta quinta-feira, na segunda sessão do julgamento, a auxiliar de sala contou que uma criança foi “amarrada com um lençol” à cadeira, pelo menos por duas vezes, no período da refeição, porque seria “agitada”.
Noutra situação, uma menina engasgou-se e ficou “estática, sem oxigenação”. “Percebi que a educadora não estava a fazer corretamente a manobra” de socorro, relatou a auxiliar, adiantando que ainda tentou “explicar que não era assim”, mas, como a educadora “não ouvia” e a crianças estava em “aflição”, pegou nela e fez o procedimento correto. A criança acabou por ficar bem.
Segundo a auxiliar, que explicou não ter dito nada antes nada por receio de se tentar “impor” perante a superior, ela e a outra auxiliar tinham ordens para não dar colo às crianças. Também não lhes podiam dar comida, concretamente bolachas e fruta, sensivelmente a partir das 9.30 horas, “com a justificação de que depois não iriam almoçar”.
O caso foi levantado por diversas mães de crianças que, entre 2019 e 2020, frequentavam a sala da educadora Graça G., que, entretanto, deixou a instituição.
De acordo com a acusação do Ministério Público, a arguida “obrigava as crianças a comer sopa com o próprio vómito”, dava-lhes “palmadas nas nádegas” e obrigava algumas de tenra idade a “ingerir alimentos sólidos”, quando ainda não conseguiam, entre outras ações classificadas como maus-tratos.
O advogado de defesa, que tentou inquirir a testemunha sobre se as “condutas assacadas” à arguida poderiam ser práticas que resultavam de “diferentes concessões pedagógicas”, terminou a fazer as perguntas por intermeio da juíza presidente do coletivo. Isso aconteceu depois de insistir na mesma linha de interrogatório, apesar de a juíza ter avisado que as testemunhas “não podem emitir juízos de valor”.