Crianças traficadas eram falsos surdos-mudos que fugiam das instituições
A construção de um centro para crianças surdas-mudas era o pretexto para as crianças compradas na Roménia pedirem dinheiro nas ruas portuguesas. Permanente vigiadas pelos elementos da organização criminosa, os menores passavam o dia na mendicidade e cada um deles angariava, em média, cerca de 500 euros por jornada.
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A rotina das vítimas começava cedo e não era para ir à escola, que nunca frequentaram nem na Roménia e muito menos em Portugal. Às primeiras horas da manhã, o grupo de quatro ou cinco crianças seguia numa carrinha em direção ao destino selecionado para aquele dia de “trabalho”, que tanto podia ser uma zona turística do Faro, como as imediações do Instituto Português de Oncologia do Porto. “Aproveitavam-se do elevado número de turistas e da fragilidade emocional das pessoas que saíam dos hospitais”, explica o comissário João Soeima.
Deixados em pontos estratégicos, sem documento de identificação, os menores faziam-se passar por surdos-mudos quando abordavam os potenciais doadores e apontavam para a folha A4 plastificava pendurada ao pescoço para dizer o que pretendiam. “Certificado Associação Regional para os incapacitados surdos e mudos e para as crianças pobres – queremos construir um centro internacional e nacional”, lia-se no anúncio.