O Ministério Público contabiliza em mais de 18 mil milhões de euros as vantagens geradas pelos crimes imputados ao ex-banqueiro Ricardo Salgado e outros arguidos em seis processos relacionados com o colapso, há uma década, do Banco Espírito Santo (BES) e Grupo Espírito Santo (GES).
Corpo do artigo
O balanço consta de um documento agora divulgado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal, no qual correram os inquéritos do chamado “Universo Espírito Santo”. A informação do Ministério Público não especifica quanto do montante global foi parar ao bolso dos acusados.
A maioria das vantagens foi obtida através dos atos sob suspeita no processo principal da queda do BES/GES. O início do julgamento deste caso está previsto para outubro e só Ricardo Salgado, de 80 anos e doente de Alzheimer, responde por 65 crimes, incluindo corrupção.
Na nota, que sintetiza os seis processos, o retrato que transparece do GES é o de um grupo que, bem antes de implodir, seria já, em benefício pessoal dos arguidos, uma espécie de castelo de cartas suportado por operações fraudulentas e subornos, incluindo no estrangeiro e com recurso a paraísos fiscais.
Ausente do comunicado está a referência aos milhares de lesados do BES/GES. “A justiça não se faz apenas com a punição dos culpados, mas, acima de tudo, com a reparação das vítimas”, reagiu a Associação de Lesados do BES/GES. Até ao momento, nem sequer uma eventual sanção penal foi aplicada aos arguidos no “Universo Espírito Santo”.
Já fora deste âmbito, Ricardo Salgado foi, em 2022 e 2024, condenado a prisão por ter desviado milhões de euros do GES, por um lado, e corrompido o ex-ministro Manuel Pinho (2005-2009), por outro. As decisões não são ainda definitivas, subsistindo igualmente dúvidas se, devido à sua doença, o ex-banqueiro, que sempre negou os crimes, será alguma vez preso.