Operações das autoridades destinadas a controlar a ordem de confinamento domiciliário e as restrições à circulação também serviram para combater outros crimes.
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A malha desenhada pela GNR e pela PSP para fiscalizar o cumprimento do estado de emergência deixou os criminosos com menos hipóteses de escapar às autoridades. Em cerca de um mês, foram pelo menos 33 as pessoas, que, abordadas por polícias ou militares para justificarem a razão de se encontrarem na rua ou quererem entrar em Portugal, acabaram identificadas ou detidas por crimes alheios à situação de exceção. Vinte são alegados traficantes de droga e foram apanhados, ao todo, com 14 772 doses individuais. Outros foram intercetados a conduzir carros roubados, alcoolizados ou sem carta.
Um dos casos mais recentes aconteceu na Amadora. Depois de se aperceberem de que um café tinha, pelas 2.40 horas da madrugada as luzes acesas, os agentes da PSP deslocaram-se ao local para notificar dois cidadãos por incumprimento do estado de emergência, que vigorou entre 22 de março e 2 de maio. Mas, mal se aproximaram, os homens fugiram, com um deles, de 37 anos, a refugiar-se num carro ali estacionado. O seu nervosismo denunciou-o e os polícias acabaram por encontrar 1289 doses de cocaína dentro do veículo. O suspeito aguarda agora o desenrolar do processo em prisão domiciliária.
A apreensão efetuada foi uma das maiores registadas neste âmbito, mas, só entre 25 de março e 27 de abril, foram apreendidas, em ações de fiscalização do estado de emergência, 14 772 doses de droga: 8100 de haxixe, 6400 de cocaína, 130 de canábis, 124 de heroína e 18 de cristais de anfetaminas. Só na fronteira terrestre, reposta desde 16 de março, a GNR deteve, pelo menos, sete pessoas na posse de 11099 doses, enquanto nas cidades a PSP surpreendeu condutores solitários traídos pelo nervosismo e grupos cuja presença na rua não seria, noutro contexto, suspeita.
Em causa estiveram sobretudo, segundo a contabilização feita pelo JN a partir dos comunicados enviados à Comunicação Social, operações rodoviárias, mas não só. Em Anta, no concelho de Espinho, um estudante de 22 anos deixou cair 45 doses de heroína e seis de cocaína no chão ao refugiar-se, a pé, nas traseiras de um bloco de apartamentos. Já na Grande Lisboa, a abordagem, em dias distintos, de três grupos de jovens que se encontravam a conviver na rua culminou na apreensão de 1006 doses individuais de haxixe e 3079,90 euros em numerário.
Disse que ia à farmácia
Foi, de resto, no patrulhamento a pé que se registaram as situações mais inusitadas. Em Coimbra, um adolescente de 16 anos fugido de uma instituição foi encontrado na Baixa, enquanto no parque junto ao Mondego um jovem foi apanhado às 03.30 horas a pedalar com uma mochila com material para furto. Já na estrada, mas também na cidade dos estudantes, um condutor apanhado com 2,28 g/l de álcool no sangue disse que queria ir a uma farmácia.
"A PSP, no âmbito das suas atribuições de fiscalização rodoviária continua a desenvolver a sua atividade de prevenção e de atuação perante a deteção de infrações rodoviárias, sem prejuízo de estarem a ser adotados procedimentos policiais para minimizar os riscos de contágio", salientou, ao JN, a instituição. A posição foi semelhante à da GNR que, então, garantiu continuar a cumprir as missões que lhe estão atribuídas, além das que decorrem do estado de emergência ou da situação de calamidade.
Entre os casos registados por esta última força de segurança, esteve a interceção numa área de serviço da A4, no concelho de Matosinhos, de dois homens, de 29 e 32 anos, que se deslocavam num carro furtado mais de 20 dias antes. Os ladrões terão usado o veículo para, durante aquele período, furtar gasóleo.