Um funcionário da autarquia de Montalegre confessou em tribunal ter-se apoderado de 66 mil euros de seguros.
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Um antigo técnico superior da Câmara de Montalegre confessou ontem, em tribunal, ter desviado mais de 66 mil euros da Autarquia, referentes a prémios de seguros e a um apoio financeiro atribuído a uma associação local. Culpou um divórcio conturbado e o vício do jogo por ter sucumbido à tentação de se apoderar do dinheiro.
O funcionário público, de 44 anos, está a ser julgado, no Tribunal de Vila Real, por seis crimes de falsificação de documentos, 13 crimes de falsificação informática e 13 crimes de peculato.
"Sim, é tudo verdade", disse o arguido, que justificou os crimes com um "mau momento pessoal". O ex-funcionário, que se mostrou "arrependido", alegou ter passado por um divórcio conturbado, que o levou a desleixar-se com "pagamentos de contabilidade privada". "Acabei por acumular algumas dívidas, resultantes de coimas. Depois foi uma bola de neve que se complicou ainda mais com o jogo. Achei que podia ganhar algum, mas foi uma ilusão", admitiu perante o coletivo de juízes.
"Muito aflito"
O arguido contou que ficou "muito aflito" e que acabou por fazer uso da sua posição na Câmara para "fazer face a essas dívidas". "Comecei a tapar buracos atrás de buracos até chegar uma altura em que tive de confessar o que tinha feito ao meu superior", acrescentou.
O trabalhador tinha acesso ao sistema informático de contabilidade da Autarquia, o que lhe permitia alterar as fichas dos clientes, nomeadamente o NIB, de modo a que os pagamentos fossem transferidos da Autarquia para a sua própria conta bancária. Depois, voltava a entrar no sistema e repunha o número da conta original.
Durante as alegações finais, o Ministério Público admitiu que a confissão do arguido "demonstra vontade em colaborar com a justiça" e salientou o facto de ter já reposto a maior parte das verbas desviadas. Já a defesa do arguido sublinhou que este "nunca quis apropriar-se daquele dinheiro" para proveito próprio. A leitura do acórdão está marcada para o próximo dia 21, no Tribunal de Vila Real.
Pormenores
Despedido após um ano - O arguido foi suspenso, em 2017, enquanto decorria um inquérito interno que aconselhou o despedimento. O técnico só foi afastado depois de um segundo inquérito, um ano depois.
Repôs verbas desviadas - O funcionário devolveu a maior parte dos 66 mil euros que desviou. A Câmara de Montalegre reclamava a devolução de 1544,99 euros, cujo pagamento já foi ordenado pelo tribunal.