Progenitora de recluso pagou, durante três anos, dívidas de droga consumida na prisão para travar agressões. Caso chega a julgamento uma década após queixa no Ministério Público.
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As denúncias feitas pela mãe de um recluso, extorquida para pagar os vícios do filho, levaram à descoberta de mais uma rede de tráfico de droga na cadeia de Paços de Ferreira. Dez anos depois, o mentor do esquema criminoso será julgado por vender heroína e haxixe.
Ao longo de três anos, a mãe recebeu telefonemas da prisão de Paços de Ferreira. Do outro lado, uma voz que não conhecia impunha-lhe o pagamento dos consumos de droga do filho e prometia que este seria agredido se o dinheiro não entrasse na conta bancária indicada.
A mulher foi pagando, mas quando ficou sem dinheiro denunciou, em fevereiro de 2015, a extorsão ao Ministério Público (MP). Contou que o filho era ameaçado de morte por outros reclusos a quem comprava droga e que, para travar as agressões, efetuou dezenas de depósitos, entre os 30 e os 60 euros cada um, na conta bancária fornecida.
Também escreveu duas cartas ao então diretor da cadeia de Paços de Ferreira, Machado Soares, dizendo que a prisão “mais parece o Casal Ventoso”, antigo bairro lisboeta afamado pelo tráfico.
Seduziu jovem emigrante
Na sequência das denúncias da mãe, o filho confirmou à Polícia Judiciária (PJ) que comprava droga, identificou o traficante e revelou o esquema de pagamento. A investigação que se seguiu sinalizaria várias redes de tráfico na prisão de Paços de Ferreira.
Uma delas chega, dez anos passados, a julgamento. Segundo a acusação, Fábio Ribeiro, conhecido por “Fabregas”, recebia droga das visitas e vendia-a, diretamente ou com a ajuda de outros presos, aos companheiros de cárcere.
Alguns dos clientes pagavam a heroína e o haxixe com a limpeza da cela ou guardando a droga à ordem de “Fabregas”. A maioria, no entanto, transferia ou depositava, por intermédio de familiares, o dinheiro devido.
A conta usada estava em nome de Sara, amiga de Márcia, jovem portuguesa a viver em França que “Fabregas” conheceu pelas redes sociais e com quem manteve um relacionamento entre 2013 e 2017. Seduzida pelo recluso, que viu apenas nas visitas esporádicas à cadeia nas férias, Márcia geria a conta sob as ordens que, diariamente, recebia de “Fabregas”. Em menos de dois anos, passaram pela conta mais de 13 400 euros, que foram parar a Fábio Ribeiro.
Márcia chegou a ser acusada, mas um juiz concluiu que fora traída pelo amor e a juventude. Evitou assim o julgamento que começará na próxima semana e no qual o ex-namorado está acusado de tráfico de droga e branqueamento de capitais. Outros dois reclusos também respondem por tráfico de droga.