Ex-presidente da Câmara do Funchal recebeu mais de 60 mil euros em dinheiro enquanto era vice-presidente do Governo Regional.
Corpo do artigo
A investigação da Polícia Judiciária detetou depósitos suspeitos nas contas bancárias de Pedro Calado, efetuados quando o detido da operação anticorrupção era vice-presidente do Governo Regional da Madeira (GRM). Entre 2018 e 2021, ano em que saiu para assumir a presidência da Câmara do Funchal, Calado recebeu 67375 euros em dinheiro. A investigação acredita que o valor representa uma pequena parte das contrapartidas que embolsou para entregar centenas de milhões de euros em obras públicas aos empresários Avelino Farinha e Custódio Correia, também eles detidos. Os três homens começam hoje a ser interrogados pelo juiz de instrução criminal Jorge Melo, em Lisboa.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, foi entre 2018 e 2021, ano em que deixou o GRM para assumir a presidência da Câmara do Funchal, que Calado recebeu os depósitos efetuados por uma interposta pessoa. Perante estes depósitos, a investigação da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ pretende analisar todas as contas de Calado e saber de onde veio esse dinheiro. É que nesse período, o decisor político era remunerado pelo GRM através de transferências bancárias.
Perto de 100 milhões
Esse dinheiro, acredita a investigação, será proveniente das duas empresas de construção e imobiliária que terão sido beneficiadas nos mandatos de Calado. A Socicorreia, de Custódio Correia, e a Afavias, de Farinha. Só esta última empresa obteve mais de 96 milhões de euros em 26 contratos celebrados entre 2018 e 2021, quando Calado estava na vice-presidência do GRM.
Sobre a Socicorreia, o MP também fez as contas aos contratos que recebeu desde 2011 a esta parte e detetou 17,8 milhões de euros em contratos que esta empresa patrocinadora da equipa de rali de Pedro Calado embolsou.
A investigação suspeita que as empresas do Grupo AFA, onde Calado desempenhou funções de administrador em vários períodos, bem como a Socicorreia teriam conhecimento antecipado de projetos e critérios definidos para a adjudicação, assim como acesso privilegiado a propostas e valores apresentados pelos concorrentes diretos nos concursos, “o que lhes terá possibilitado a apresentação de propostas mais vantajosas e adequadas aos requisitos pré-determinados”, garantiu o MP, que também tem suspeitas sobre a atuação de Miguel Albuquerque, presidente do GRM demissionário.
Saber mais
Adiamento
O interrogatório dos detidos que deveria ter ontem começado foi novamente adiado porque os advogados dos arguidos exigiram ver todos os documentos apreendidos nas buscas realizadas na semana passada pela Polícia Judiciária (PJ).
Renúncia
No sábado e na sequência da sua detenção, Pedro Calado decidiu renunciar ao mandato de presidente da Câmara do Funchal. O pedido foi formalizado na semana passada porque “entendeu que era a conduta adequada face às circunstâncias que está a atravessar”, revelou ainda no sábado o advogado do autarca, Paulo Sá e Cunha.
Presidente arguido
A operação também atingiu o presidente do Governo Regional (PSD/CDS-PP), Miguel Albuquerque, que foi constituído arguido e oficializou ontem a renúncia ao cargo, que tinha anunciado na sexta-feira. Albuquerque afirmou estar de consciência tranquila, negando o cometimento de qualquer ilegalidade.