
Arquivo Global Imagens
A Polícia Judiciária de Braga interrogou vários funcionários da Câmara de Guimarães, a propósito de uma investigação sobre irregularidades na Divisão de Trânsito e Espaço Público e Departamento de Obras Municipais.
Um dos casos suspeitos está relacionado com o alegado desvio de quase dois mil litros de gasóleo da Autarquia. O "sumiço" do combustível foi denunciado em 2015 pela Oposição, durante uma Assembleia Municipal, motivando um inquérito disciplinar interno, na Câmara, que culminou no despedimento de um funcionário.
As conclusões desse inquérito foram enviadas para o Ministério Público e é principalmente sobre esse desvio que versa a investigação da PJ. Fonte da Câmara de Guimarães confirmou ao JN que a PJ "ouviu os funcionários", nomeadamente os que "foram testemunhas nesse processo" interno.
Segundo a investigação da Câmara efetuada na altura, o homem adulterou os talões de abastecimento, em setembro e outubro de 2015, colocando nos registos mais litros do que aqueles que realmente saíram do posto da Autarquia, à data colocado em Santo Amaro.
Com isto, gerou-se um diferencial de 1835 litros "abastecidos de forma fictícia na aplicação informática", concluiu o relatório. Estavam contabilizados, mas não saíram, o que poderia permitir que saíssem depois sem contabilização.
Mais suspeitas
O problema é que, mesmo depois do despedimento do funcionário, continuaram a existir discrepâncias nos valores de abastecimento. Por exemplo, no terceiro mês a contar da suspensão do funcionário, foi detetado um desvio superior a 800 litros.
O JN sabe que há mais indícios sob investigação, como a alegada utilização irregular de viaturas da Câmara, supostas irregularidades na reparação dos carros e na compra de peças, bem como indícios de anormalidades na compra de materiais de construção e carpintaria destinados a uma escola.
Esta não é a primeira vez que a PJ faz diligências na Câmara de Guimarães a propósito deste assunto. Em dezembro de 2017, cinco funcionários com cargos de chefia também já tinham sido interrogados, a maioria relacionados com as oficinas de mecânica, serralharia e carpintaria da Câmara.
Pormenores
Políticos não são suspeitos
Ao que o JN apurou, a responsabilidade pelas irregularidades não é apontada a qualquer dos políticos que integrou os dois Executivos que comandaram a Câmara desde 2015.
Arguido nega
Há pelo menos um arguido na investigação da PJ. Trata-se do funcionário despedido pela Câmara. Nega ter desviado gasóleo e atribui a diferença ao funcionamento deficiente da bomba, bem como às diferenças resultantes da evaporação.
Números
28 desvios de gasóleo foram registados entre setembro e outubro de 2015, segundo a inspeção da Câmara de Guimarães que deu origem à investigação da PJ.
Compras duvidosas
A aquisição de material de oficina está sob suspeita, sendo um dos casos a compra de um motor, por cerca de dois mil euros, que avariou dois dias depois. Há ainda material de cozinha comprado para uma escola que se estragou pouco depois da compra e ninguém reclamou.
Denúncia do MPT
A primeira vez que se falou, em Guimarães, do desvio de gasóleo foi pela voz de Carmo Oliveira, então deputado do MPT, numa Assembleia Municipal realizada em janeiro de 2016. A Câmara mandou abrir um inquérito interno.
