Desmantelada rede que ganhou milhões com imigração ilegal. Detida funcionária dos Negócios Estrangeiros
Uma rede de auxílio à imigração ilegal foi desmantelada pela PJ do Centro, numa investigação que durava desde 2023 e que culminou com 40 buscas domiciliárias e não domiciliárias em Coimbra, Espinho, Carregal do Sal, Amadora, Odivelas, Loures e Lisboa. Elementos terão lucrado milhões de euros com o esquema.
Corpo do artigo
Na operação batizada como "Gambérria", foram detidas 13 pessoas, sete homens e seis mulheres, entre os quais sete empresários, uma advogada e uma funcionária da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas do Ministério dos Negócios Estrangeiros, explica aquela polícia em comunicado. São suspeitos da "prática reiterada de crimes de auxílio à imigração ilegal, associação de auxílio à imigração ilegal, corrupção, branqueamento de capitais e falsificação de documentos".
O grupo dedicava-se à legalização irregular e massiva de cidadãos estrangeiros em Portugal, obtendo proventos financeiros na ordem dos milhões de euros. Ao que tudo indica, explica a PJ, os imigrantes, enquanto “clientes” que se mostravam disponíveis a pagar valores elevados para conseguir a legalização em território nacional, eram angariados pelo grupo via "complexos esquemas nos países de origem", com a promessa de fornecimento de um conjunto de serviços, tais como obtenção de contratos de trabalho, Número de Identificação Fiscal (NIF), Número de Identificação de Segurança Social (NISS), Número de Utente do SNS (Serviço Nacional de Saúde), tradução e certificação de registos criminais, abertura de contas bancárias, atestados de residência, entre outros.
A investigação verificou que muitos dos imigrantes legalizados por este grupo, apesar de figurarem como estando a trabalhar e a residir em Portugal, se encontram noutros países do espaço europeu.
Um milhão de euros, criptomoedas, selo branco e marfim
Os investigadores apreenderam um "enorme acervo de documentação utilizada em processos de legalização irregular de estrangeiros", equipamentos informáticos, 11 veículos automóveis, alguns dos quais de alta cilindrada, aproximadamente um milhão de euros em numerário, duas presas de elefante em marfim com cerca de 50 kg e artigos utilizados na falsificações de documentos, entre os quais um selo branco encontrado numa empresa onde seriam “validados” milhares de certificados de registo criminal de cidadãos estrangeiros.
A operação, na qual participaram cerca de 200 elementos da Polícia Judiciária, estiveram dois Juízes, uma Procuradora da República e representantes da Ordem dos Advogados. Pela autoridade judiciária foi ordenada a intervenção do Gabinete de Recuperação de Ativos - Centro, cujos inspetores, em simultâneo, procederam ao arresto de seis imóveis, dois prédios rústicos e quatro urbanos, destes uma vivenda e três apartamentos. Foram, igualmente, congeladas 35 contas bancárias, dois produtos financeiros da empresa de jogos BETANO e uma conta de criptoativos da BINANCE.
Os detidos, com idades compreendidas entre os 26 e os 64 anos, sem antecedentes criminais conhecidos, serão presentes às autoridades judiciárias, tendo em vista a aplicação das medidas de coação.