PJ trava agentes da Polícia Municipal de Loures que se deixariam corromper em funções de fiscais na área do urbanismo.
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Oito agentes da Polícia Municipal de Loures foram detidos, na quarta-feira, por suspeita de terem sido pagos para fecharem os olhos a ilegalidades em obras particulares ao longo dos anos. Mas a Polícia Judiciária também deteve outros quatro indivíduos - um arquiteto, dois empreiteiros e outro empresário -, que terão subornado os agentes públicos. O presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, regozijou-se com a ação da Judiciária.
A operação Embargo Final, como lhe chamou a PJ, meteu 84 polícias na rua, ao início da manhã de ontem, e incluiu 50 buscas, 18 delas domiciliárias. Estas diligências, apurou o JN, permitiram apreender dezenas de milhares de euros em notas. As quantias pertenceriam a vários agentes da Polícia Municipal e seriam produto da atividade criminosa, suspeitam os inspetores que investigam o caso sob a direção do Ministério Público de Loures. Sabedores de que os bancos têm aumentado a atenção sobre os movimentos em numerário, por força da lei do branqueamento de capitais, os oito suspeitos de corrupção passiva guardariam as "luvas" em casa.
Estes detidos compunham o departamento da Polícia Municipal de Loures com competência para fiscalizar obras. Mas, como informou ontem um comunicado da Unidade Nacional de Combate à Corrupção da PJ, há "importantes elementos de prova que indiciam fortemente" que aqueles agentes recebiam "contrapartidas monetárias, para o não exercício das funções profissionais que lhes estavam atribuídas".
Na prática, não faziam vistorias, permitiam obras sem licença, deixavam construir andares a mais, entre outros atropelos às regras urbanísticas do Município de Loures.
Segundo as informações recolhidas pelo JN, a disponibilidade daqueles fiscais para o crime já seria conhecida entre construtores civis com atividade em Loures e dispensava a intervenção direta dos donos dos imóveis.
Ainda assim, resta apurar se estes particulares também poderão ser responsabilizados pela corrupção ativa e pelas obras ilegais. Ontem, a Judiciária deu conta da detenção de 12 pessoas, com idades entre 44 e 64 anos, sem aludir a outros eventuais arguidos.
Câmara já tinha dado provas
Os investigadores não terão indícios de que o esquema corrupto dos polícias municipais tivesse algum tipo de cobertura, designadamente, ao nível político. O comunista que preside à Câmara de Loures reagiu, aliás, para manifestar "total apoio" à investigação, o qual já se terá materializado no envio de documentos.
"A determinada altura, não sei se tem a ver com esta investigação ou não, a estrutura da Câmara enviou também documentos para o Ministério Público, para eventual investigação, porque considerámos que poderia justificar a análise por parte das autoridades", contou Bernardino Soares, citado pela Lusa.