Líder da rede dos Comandos estava em Portugal e seguiu pesagem das pedras a cinco mil quilómetros de distância.
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O líder da rede de comandos e ex-tropas suspeitas de usar aviões das Forças Armadas (FA) para traficar diamantes, ouro e droga, chegou a negociar através de videochamada a compra de dez mil euros de pedras preciosas, quando estava em Portugal, a cinco mil quilómetros da República Centro-Africana (RCA). A chamada foi feita a partir deste país por um capitão, seu cúmplice, que estava com um vendedor de diamantes e o intérprete que viria a denunciar o caso, por não ter recebido uma percentagem.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, a videochamada foi feita em agosto de 2019, cerca de um ano e meio depois de o líder, Paulo Nazaré, entretanto colocado em prisão preventiva, ter abandonado a missão das Nações Unidas.
Antes de abandonar o país em guerra, Nazaré abordou um capitão, Ricardo Marçal, que estava em serviço da quinta missão das Forças Destacadas Nacionais (FDN). Explicou-lhe o esquema que aproveitava os voos militares sem fiscalização para trazer pedras para Portugal. O capitão aceitou e ficou com o contacto do intérprete, que servia de intermediário com os traficantes locais.
Capitão condecorado
Combinaram um encontro com um vendedor de diamantes e Nazaré quis acompanhar, através da videochamada, a negociação. Através das imagens de telemóvel e a cinco mil quilómetros de distância, o líder assistiu à pesagem das pedras e também à entrega de um montante em dólares equivalente a dez mil euros.
Os diamantes acabaram por chegar a território nacional num chamado voo de sustentação das Forças Armadas, que transportava militares e bens entre Portugal e a RCA.
O capitão Ricardo Marçal seria condecorado, com a Medalha Comemorativa de Comissões de Serviço Especiais, "RCA 2019", em outubro de 2019.
Reações
Políticos querem ouvir ministro no Parlamento
O PSD e o Bloco de Esquerda querem ouvir o ministro da Defesa no Parlamento. Os dois partidos pretendem que João Gomes Cravinho explique por que motivo não informou o presidente da República e o primeiro-ministro sobre a denúncia que recebeu em 2020, dando conta de tráfico de diamantes em missões da ONU. Os bloquistas também pedem, a audição, com urgência, do Chefe de Estado-Maior do Exército (CEME) e do Chefe de Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), o almirante Silva Ribeiro, que na quinta-feira veio a público garantir que as medidas de controlo de bagagens que foram adotadas impedem a repetição dos eventuais comportamentos criminosos de militares na República Centro-Africana.