O dirigente do CDS desatou aos murros e pontapés na casa de colega de partido e da Câmara de Vale de Cambra após autárquicas.
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O atual secretário-geral adjunto do CDS-PP e presidente da concelhia de Vale de Cambra está acusado de crimes de ameaça agravada, dano, injúria e difamação por um episódio que remonta às eleições Autárquicas de 2017.
Um dia depois das eleições, Pedro Magalhães, então chefe de gabinete do presidente da Câmara de Vale de Cambra, foi à porta de casa do ex-adjunto do mesmo autarca ameaçá-lo de morte e insultá-lo, desferindo murros e pontapés no portão da casa. O arguido pediu abertura de instrução do processo e, no final do mês, o juiz vai decidir se o caso segue para julgamento.
Tudo aconteceu no dia 2 de outubro de 2017, um dia depois das autárquicas, quando Magalhães se dirigiu à residência de Albano Braga pelas 23.30 horas. Ambos trabalhavam na Câmara, Pedro como chefe de gabinete do atual presidente, José Pinheiro, e Albano como adjunto, e eram do mesmo partido. Segundo a acusação do Ministério Público (MP), em frente à habitação de Albano, Pedro Magalhães "começou a proferir as seguintes expressões em voz alta e repetidamente: "És um cobarde", "dou-te uma tareia", "mato-te", "cabrão"". As expressões, diz o MP, "foram ouvidas pelo assistente que se encontrava no interior de casa, e provocaram-lhe receio que o arguido lhe pudesse, no futuro, agredir fisicamente ou matá-lo".
"Uma pouca-vergonha"
Enquanto atacava verbalmente o adjunto, Magalhães dava murros e pontapés no portão. Albano Braga, que entretanto saiu do partido, relata que o arguido "estava completamente bêbedo". "Isto aconteceu por divergências políticas e no dia a seguir às eleições foi a minha casa incomodar-me. Fez um alarido e uma pouca-vergonha, tive que chamar a GNR, que o deteve 400 metros abaixo de minha casa", conta Albano, que acredita que tudo aconteceu por Pedro Magalhães não ter concorrido nas listas à Câmara nesse ano. "Ele ficou desagradado, porque queria ir para o Executivo e, na altura, eu opus-me". Albano, hoje deputado municipal, conta que vive "numa zona mais ou menos isolada" e que passou a "olhar por cima dos ombros" ao entrar em casa. Ainda assim, diz: "Não tenho medo de o enfrentar. Quis ir a julgamento porque não tolero isto".
Pedro Magalhães, que abandonou o cargo de chefe de gabinete após o sucedido e que é atualmente secretário-geral adjunto do CDS, garante ao JN que este é um caso do "foro pessoal" e não uma "questão política", remetendo para a justiça "o que é da justiça".
"Estou de consciência tranquila enquanto cidadão e enquanto interveniente político porque sempre zelei pelo interesse da população de Vale de Cambra. Esta foi uma situação privada".
O arguido pediu abertura de instrução do processo e o juiz de instrução vai decidir, no dia 21, se o caso avança para julgamento.
Prejuízos de 282 euros
Em consequência dos murros e pontapés de Pedro Magalhães, o portão de casa de Albano ficou danificado e a reparação custou 282 euros.
Telefonema à prima
No dia do sucedido, o arguido telefonou à prima de Albano a dizer que estava em frente à casa dele para lhe "bater" e o "matar". O MP escreve na acusação que o arguido "agiu de forma livre, consciente e deliberada".
Autarca é testemunha
O presidente da Câmara de Vale de Cambra, José Pinheiro, vai testemunhar a favor de Pedro Magalhães, defendendo o "bom trabalho" do seu antigo chefe de gabinete.
Ex-presidente condenado
Albano Braga fez a participação que originou o processo que culminou, no início deste ano, na condenação do antigo autarca de Vale de Cambra, José Bastos, do PSD, por abuso de poder. Desde 2009 que a Câmara é do CDS.