SEPNA chamado 2477 vezes para ações de resgate em situações de cativeiro ilegal ou risco. Maior consciência ambiental aumenta denúncias.
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Uma maior sensibilidade das pessoas para a proteção da natureza, que se traduziu em denúncias às autoridades, mais fiscalizações e o "patrulhamento" das redes sociais fizeram disparar, no ano passado, o número de salvamentos de animais em perigo de vida ou em cativeiro ilegal efetuado pelo Serviço de Proteção da Natureza e Ambiente (SEPNA) da GNR. Ao todo, foram resgatados 2477 animais, sobretudo de espécies autóctones de Portugal.
Em 2018, tinham sido 1901 e no ano seguinte 1884. O tenente-coronel Ricardo Vaz Alves, chefe da divisão técnica ambiental do SEPNA, justifica os números com uma "maior consciencialização das pessoas", que começam a ter cada vez maiores "preocupações ambientais" e reportam casos. A GNR também procede à monitorização de redes sociais e realiza fiscalizações.
Samuel Infante, da Quercus, uma associação ambientalista que gere três dos 11 centros de recuperação de animais selvagens que existem no país, acrescenta que, devido à pandemia, houve "um regresso às zonas rurais, pessoas com mais tempo e mais atenção a animais que precisam de ajuda, uma maior consciência da importância de cuidar do planeta e de proteger as espécies", o que fez disparar as entradas nos centros.
Para além de mais animais encaminhados pela GNR, a Quercus também nota "um aumento" dos que são "levados diretamente por particulares".
"A maioria das entradas estão associadas à atividade humana, sejam atropelamentos, eletrocussões, tiros, envenenamentos, entre outras", especifica Samuel Infante. O número de animais baleados tem vindo a diminuir nos últimos anos, mas ainda representa "6% a 7%" das entradas. São geralmente "águias, abutres e outras aves de rapina, que algumas pessoas consideram predadoras", acrescenta Samuel Infante.
Entre os resgatados pela GNR há casos de animais que eram mantidos em cativeiro, como o da raposa-vermelha detetada há dias acorrentada no logradouro de uma habitação em Vale de S. Cosme, Famalicão, cujo dono, de 78 anos, foi autuado. Outros são encontrados desamparados, como os dois mochos-galegos juvenis que caíram do ninho, em Santa Maria da Feira. Foram recolhidos e transportados para o Centro de Recuperação de Fauna do Parque Biológico de Vila Nova de Gaia.
O destino dos animais em perigo varia, sendo que, no caso das espécies autóctones recuperadas, são geralmente transportadas para centros de recuperação. São tratadas e, se os biólogos considerarem que conseguem sobreviver na natureza, libertadas. Se não, acabam por ficar a viver em jardins zoológicos ou parques naturais.
Estratégia
Comércio ilegal de madeira exótica é o próximo alvo
O SEPNA pretende expandir a área de atuação direcionando esforços para a fiscalização de comércio ilegal de madeiras exóticas da Amazónia e de África que estão protegidas. Nesses casos, poderão apreender tanto árvores como mobiliário feito dessas madeiras.
"Ainda não tivemos casos, mas é uma aposta de futuro em termos de fiscalização", disse o tenente-coronel Ricardo Vaz Alves.
Outra aposta em termos de combate à criminalidade ambiental prende-se com o comércio ilegal de marfim, que também está protegido pela CITES. Recentemente, adiantou, houve um caso de "apreensão de várias peças". "Portugal ainda tem marfim que veio das ex-colónias e poderá entrar no mercado paralelo ilegal".
Estas são duas das "tendências mundiais que terão reflexo a nível nacional" e às quais a Guarda estará mais atenta.
Pormenores
Até orquídeas...
Para além de animais, a GNR também está atenta a plantas de espécies protegidas, tendo já encontrado, por exemplo, orquídeas nos Açores que estavam protegidas pela convenção CITES.
Redes sociais
A GNR tem peritos que "fazem monitorização frequente das redes sociais, com filtros específicos", pois é normal os proprietários tirarem fotos e publicarem-nas, diz o tenente-coronel Ricardo Vaz Alves.
Linha SOS
As denúncias para a linha SOS Ambiente e Território da GNR (808200520) aumentaram cerca 20% no ano passado. Em 2020 foram registadas 12 185 denúncias, quando em 2019 tinham sido cerca de dez mil.