Ataques contra entidades públicas e serviços essenciais cresceram a partir de março de 2020. "Agentes estatais" estrangeiros tiveram atividade "relativamente intensa".
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Os ataques informáticos e os indicadores de cibercrime em Portugal "cresceram de forma significativa em 2020, mostrando com frequência uma coincidência temporal entre esse crescimento e os períodos de confinamento social fruto da pandemia de covid-19".
A conclusão consta do mais recente "Relatório Cibersegurança - Riscos e Conflitos 2021", produzido pelo Observatório do Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS), que concretiza esse aumento de com dados claros: houve uma quase duplicação (perto de 90%) de incidentes - "eventos com um efeito adverso real na segurança das redes e dos sistemas de informação" - registados pelo CERT.PT, organismo do CNCS que coordena a resposta às ameaças "no ciberespaço de interesse nacional que afetam sobretudo a Administração Pública, os operadores de serviços essenciais ou os prestadores de serviços digitais".
De 2017 para 2018, o crescimento de casos ficou-se pelos 16%. Em 2018, subiu 26%. Mas no ano passado, com "forte aumento" a partir de março, saltou-se dos 754 incidentes graves reportados em 2019 para 1418 (incluindo a contabilidade de falhas de software e hardware), que ameaçaram serviços críticos: banca, ISP (fornecedores de serviços de internet), infraestruturas digitais, transportes ou do setor da Educação e Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Mas foram afetados também setores do Estado a todos os níveis, como a Presidência do Conselho de Ministros, órgãos de soberania, Saúde ou Administração Local.
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O documento, que será hoje divulgado, sublinha ainda (embora sem números concretos) a relevância da ciberespionagem levada a cabo por "agentes estatais" estrangeiros - que aliás o JN já tinha noticiado a 31 de março -, que "tiveram em 2020 uma atividade relativamente intensa". É, segundo o Observatório, "expectável a manutenção da sua ação ofensiva futura em níveis elevados".
Os ataques por "phishing" lideram a tabela registada pelo CERT.PT (43%), seguidos pelos incidentes de infeção por "malware" (ler ao lado). O relatório junta ainda dados já divulgados pela Polícia Judiciária, Ministério Público e pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, para assinalar "tendências comuns associadas à pandemia", como o aumento após o primeiro confinamento.
Dependência digital
Tudo ficou "mais dependente dos serviços digitais" e a atividade contra entidades e cidadãos acompanhou esse comportamento. Pedro Mendonça, responsável pelo Observatório, acrescenta que é para a consciencialização pública desses perigos que o CNCS produz este documento, fornecendo "aos agentes no terreno informação suficiente para que possam perceber quais são os maiores riscos no ciberespaço e poderem agir em conformidade".