Foi preso em 1999 por duplo homicídio com dinamite e usou duas licenças para tentar fazer terceira vítima.
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Um septuagenário, preso há quase 26 anos por matar à bomba duas mulheres, aproveitou uma saída precária, em junho, para ir à procura da ex-companheira que tentara degolar em 2011, também numa ausência temporária da cadeia. As autoridades investigam a hipótese de o recluso João Baptista Fernandes, que beneficia de regime aberto, ter fugido e voltado à cadeia de Izeda (Bragança) sem os guardas prisionais notarem, para ameaçar de morte a ex-mulher, esfaqueada há 14 anos, e uma vizinha.
O primeiro problema de Fernandes com a Justiça remonta a 1999. Em junho desse ano, o então empreiteiro escondeu barras de dinamite na varanda de uma casa de Moredo, em Bragança, e a explosão matou duas mulheres. O “bombista” seria preso em novembro seguinte.
Em 2011, com 62 anos e encarcerado em Santa Cruz do Bispo (Matosinhos), teve direito a saída precária e, a 30 de dezembro, na aldeia de Paradela, em Mirandela, esperou que a ex-mulher regressasse da apanha da azeitona e tentou degolá-la em casa. A vítima sobreviveu e Fernandes voltaria a ser condenado, desta vez por tentativa de homicídio.
"Da cadeia já não saio"
Em novembro próximo, completa 26 anos atrás das grades, mas não parece reabilitado. Fernandes, agora com 76 anos, aproveitou uma saída precária da cadeia de Izeda, em junho, para ir procurar a sua ex-mulher a Paradela. Encontrando-a em casa de uma irmã, abalou para a de uma vizinha da aldeia de Mascarenhas. “Bateu-me à porta, fui à janela e vi que era ele. Perguntou-me coisas estranhas e só lhe disse que se pusesse a andar, que ia ligar à GNR”, conta Maria José ao JN.
Na resposta, o “bombista” foi direto: “Querida, estás debaixo de olho, vou-te f****, porque da cadeia já não saio e a ti vou-te pôr no outro mundo”. Maria José queixou-se à GNR e, no mesmo dia, soube que a ex-mulher de Fernandes também fora ameaçada. “Ele disse-lhe que não saía dali enquanto não a pusesse no outro mundo. A sorte dela foi que estava em casa de uma irmã e esta chamou um familiar”, acrescenta.
Fuga ou lapso?
Ao JN, a Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP) diz que o “recluso usufruiu de saída jurisdicional, entre 27 de maio e 3 de junho, data em que se apresentou no Estabelecimento de Izeda”. Admite, porém, que o “bombista” tenha voltado a Mirandela no dia seguinte ao regresso à prisão. “A DGRSP, ao tomar, recentemente, conhecimento de que haverá uma queixa contra o mesmo referindo a data de 4 de junho e Mirandela como local dos factos, mandou abrir processo de inquérito”, justifica.
O recluso trabalhava nos campos em volta da cadeia, e as autoridades suspeitam que dali se tenha ausentado sem autorização, indo a Mirandela e regressado antes da hora de recolher, sem que os guardas prisionais dessem por isso.
Esta semana, informa a DGRSP, o preso foi “suspenso do regime aberto, para apurar se haverá erro na data dos factos subjacentes à queixa ou se se verificou incumprimento por parte do recluso, uma vez que estava a trabalhar em regime aberto e com vigilância descontínua”.