Durão Barroso corrobora que Manuel Pinho não poderia saber que iria ser ministro
O antigo primeiro-ministro José Manuel Durão Barroso (2002-2004) corroborou esta terça-feira, em tribunal, a versão do ex-ministro Manuel Pinho (2005-2009) de que, em março de 2004, este não poderia saber que, um ano mais tarde, iria passar a exercer funções no Governo de José Sócrates.
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O Ministério Público acredita que, em março de 2005, o então presidente do Banco Espírito Santo (BES), Ricardo Salgado, e Manuel Pinho terão feito um pacto corruptivo para que este beneficiasse a instituição financeira e o Grupo Espírito Santo (GES) a partir do momento que fosse titular da pasta de Economia. Estes negam e alegam que o que está em causa é um acordo compensatório, celebrado em março de 2004, pelo afastamento de Manuel Pinho da coordenação da área de mercado de capitais do BES.
"É absolutamente impensável, não acho que haja nenhum génio político que, em março de 2004, pudesse antever o que ia fazer a pessoa A, B ou C, num governo seguinte", defendeu, esta terça-feira, Durão Barroso no julgamento, em Lisboa, de Manuel Pinho e Ricardo Salgado.
O à data líder do PSD lembrou, ainda, que, quando em julho de 2005, abandonou o Governo para se candidatar à presidência da Comissão Europeia, foi substituído por Pedro Santana Lopes (PSD) e só depois, na sequência da dissolução da Assembleia da República decidida pelo então presidente da República, Jorge Sampaio, é que José Sócrates (PS) foi eleito primeiro-ministro.
"Nunca tinha havido uma dissolução da Assembleia da República contra a maioria parlamentar", frisou, salientando que "nunca teria ido para Bruxelas se achasse" que acabaria por ser esse o desfecho.
Amigo de Salgado
Antes, Durão Barroso tinha, entre outras funções, sido ministro dos Negócios Estrangeiros entre 1992 e 1995. Após ter, nessa altura, cessado funções governamentais, tornou-se "consultor de uma empresa do GES" até ser eleito para a presidência do PSD, em 1999. "Era um contrato de prestação de serviços. A maior parte do tempo estava fora, nunca participei direta ou indiretamente absolutamente em negócios do BES, era uma consultadoria na área internacional", precisou.
Esta terça-feira, o antigo primeiro-ministro, arrolado como testemunha pela defesa de Manuel Pinho, escusou-se, porém, a fazer "qualquer espécie de paralelo" entre a sua situação e a do ex-ministro da Economia. Manuel Pinho, alto quadro do BES antes de ter ido para o Governo, continuou, segundo o Ministério Público e ao contrário do que Durão Barroso garante ter sido o seu caso, a receber, através de offshores, dinheiro do BES enquanto esteve no Governo.
"Há milhares de políticos por essa Europa fora que, depois de exercerem funções políticas, é normalíssimo exercer funções económicas, não executivas. [...] É muito frequente juízes que depois vão para administradores não executivos numa instituição financeira. É uma coisa normal. Há pessoas que não gostam muito dessa situação, mas é absolutamente normal", afirmou o antigo primeiro-ministro.
Atualmente ligado com funções não executivas à multinacional financeira Goldman Sachs, o antigo primeiro-ministro reconheceu que, durante o tempo que trabalhou para o GES, desenvolveu "uma relação pessoal" com Ricardo Salgado e a mulher deste.
"Nunca o Dr. Ricardo Salgado usou a sua relação comigo para obter qualquer posição de favor", ressalvou.
Manuel Pinho, de 69 anos, está acusado pelo Ministério Público de corrupção passiva, branqueamento e fraude fiscal, enquanto Ricardo Salgado, de 79 e diagnosticado com a doença de Alzheimer, responde por corrupção ativa e branqueamento. A mulher do ex-ministro da Economia, Alexandra Pinho, de 63, é também arguida, por suspeitas de branqueamento e fraude fiscal.
O julgamento prossegue com a inquirição, ainda na manhã desta terça-feira, do ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho (2011-2015). À tarde, deporá, também como testemunha, José Sócrates.