Vítima do Porto levantara fortuna para oferecer aos netos. Mulher-a-dias e três cúmplices são acusados de roubar, simular crime e lavar dinheiro.
Corpo do artigo
Era empregada de limpeza de uma mulher, de 93 anos - residente na zona da Foz do Porto, que tinha levantado 154 mil euros para oferecer aos netos. A criada decidiu partilhar essa informação com uma amiga, motorista de TVDE, para que fosse organizado um falso sequestro e roubar o dinheiro, com ajuda de dois cadastrados. O grupo fez o assalto no verão do ano passado, mas a empregada arrependeu-se. Contou tudo à Polícia Judiciária (PJ) e entregou parte do produto do roubo. O Ministério Público (MP) acaba de acusar o grupo de quatro pessoas de roubo, simulação de crime e branqueamento de capitais.
Segundo a acusação, a arguida, Elisabete F., de 34 anos, residente em Matosinhos, começou a trabalhar para a vítima apenas três meses antes do assalto. Tinha como missão limpar a casa e auxiliar a idosa. Acompanhava-a, por exemplo, nas idas ao supermercado, ao cabeleireiro, ao cemitério, mas também chegou a levá-la ao banco, onde, em maio, a idosa levantou 50 mil euros. O dinheiro foi guardado num móvel da habitação, onde a viúva já tinha cerca de 100 mil euros, que queria dar aos netos.
A empregada sabia da fortuna ali guardada e partilhou a informação com a amiga Maria R., de 30 anos, moradora em Rio Tinto, Gondomar, mas atualmente em prisão preventiva. Segundo o MP, ambas decidiram apoderar-se do dinheiro, usando a força, se necessário.
Cadastro por roubo e furto
A motorista era amiga de dois indivíduos cadastrados, Ricardo T., de 24 anos, morador em Contumil, Porto, que esteve preso entre 2014 e 2019 por vários roubos, e Rui R., da mesma idade, que cumpriu, em casa, com vigilância eletrónica, uma pena de dois anos, por furto. Este indivíduo, residente em Vila Nova de Gaia, tinha acabado de cumprir a pena apenas um mês antes do assalto. Ambos estão em prisão preventiva.
Os quatro combinaram que a motorista de TVDE ia levá-los ao local do assalto e que iriam simular o sequestro da empregada de limpeza, para não dar nas vistas. Também planearam que Elisabete teria de denunciar o crime às autoridades, para não levantar suspeitas.
Foi no dia 1 de junho de 2020 que a motorista e os dois cadastrados se apresentaram à porta do prédio da idosa. Era meio-dia, hora a que a empregada terminava o serviço. Aguardaram que ela abrisse a porta do prédio e entraram no apartamento da vítima. Ao mesmo tempo que um dos assaltantes agarrava a idosa pelo pescoço, o outro fingia que estava a manietar a empregada de limpeza. Exigiram à vítima revelar o esconderijo do dinheiro, mas, apesar da fragilidade e da idade, a viúva resistiu, levando Ricardo T. a praticar um golpe de "mata-leão". A idosa até desmaiou por uns instantes e caiu. Ainda lhe deram socos até que a vítima deu-lhes as chaves das gavetas onde estavam os 154 mil euros, mas também peças em ouro.
Fugiram levando a empregada "sequestrada" e dividiram o dinheiro, mas acabariam por ser detidos poucas semanas depois.
SIMULAÇÃO
Apresentou falsa queixa na GNR de Fânzeres
Depois de sair de casa da idosa, da Foz do Porto, o grupo foi dividir o dinheiro em casa de Ricardo T., em Contumil. Deu mais de 30 mil euros a cada um. A seguir, levaram a empregada para Fânzeres, onde esta foi à GNR alegar que tinha sido sequestrada após o assalto. Com o seu "quinhão", a motorista de TVDE comprou logo uma viatura, que pôs em nome da mãe. Os outros compraram uma moto e uma moto-quatro. Por isso, também respondem pelo crime de branqueamento de capitais. Do saque, só foi recuperado o dinheiro que Elisabete entregou à PJ.
PORMENORES
Transportou 50 mil e viu caderneta
Numa ida ao banco, foi a empregada de limpeza quem, no regresso a casa, transportou um envelope com 50 mil euros. Além disso, sabia dos movimentos bancários anteriores, por ter visto a respetiva caderneta.
Ninguém estranhou ladrões de máscaras
Para esconder o rosto, os dois assaltantes usaram máscaras cirúrgicas, comuns nestes tempos de pandemia. Ninguém estranhou vê-los entrar no prédio de máscara.
Cadastrados sujeitos a penas mais pesadas
Dois arguidos podem apanhar penas mais pesadas, por já serem reincidentes.