Um cartel constituído por traficantes da Costa Rica, Colômbia e República Dominicana criou uma rede de empresas, uma das quais em Aveiro, para, ao longo de anos, fazer chegar centenas de quilos de cocaína à Europa.
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A droga vinha escondida em caixas de papelão, paletes de madeira e dentro de latas de yuca, uma espécie de mandioca que cresce na América Central e do Sul e é usada na culinária. O porto de Setúbal era uma das portas de entrada da organização criminosa e uma apreensão da Polícia Judiciária (PJ), em junho do ano passado, permitiu que, nesta quarta-feira, a cúpula da rede fosse detida na Costa Rica.
Esconderijo eficaz
Fonte policial descreve, ao JN, a rede agora desmantelada como “uma das mais perigosas” do mundo, “devido à grande quantidade de droga” que traficava. “Era das que mais usava os contentores marítimos para traficar cocaína para a Europa”, acrescenta.
E, de facto, há anos que este cartel comprava cocaína na Colômbia e levava-a, de barco, até à Costa Rica para evitar os portos mais suspeitos da América do Sul, como o de Guayaquil, no Equador. Era na Costa Rica que cargas entre os 100 e 300 quilos de cocaína eram escondidas em contentores com destino a diferentes portos da Alemanha, Bélgica, Espanha e Países Baixos. O porto de Setúbal era outro dos locais escolhidos pelo cartel.
Numa primeira fase, a droga foi dissimulada em caixas de ananases, mas depois passou a ser posta nas paletes de madeira que acompanhavam as remessas de fruta. Por último, a cocaína era misturada no gelo da embalagem de yuca. A Europol, que coordenou a cooperação entre as polícias de Portugal, Espanha e Costa Rica, afirma que, “devido à densidade e à cor da yuca, a cocaína não era detetada pelos sistemas de scanner durante as inspeções alfandegárias”. “O uso de carga congelada também tornava as remessas indetetáveis por cães”, garante ainda.
De Aveiro para Espanha
Mesmo assim, a PJ descobriu, em dezembro do ano passado, 350 quilos de cocaína num destes contentores. A yuca foi carregada para o navio na Costa Rica e ainda passou por Vigo (Espanha) antes de chegar a Setúbal. Quando a embarcação atracou em território nacional, a PJ não avançou para a apreensão da droga, antes seguiu o camião que rumou a Sevilha com o contentor de yuca, disso dando conta à congénere espanhola. No destino, foi a Guarda Civil a liderar a busca que permitiria encontrar a droga.
E esta já não era a primeira vez que a organização criminosa esteve na mira da Judiciária. Em 27 de junho do ano passado, numa operação batizada de “Toro”, a Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes deteve quatro dominicanos e apreendeu 251 quilos de cocaína, escondidos em orifícios feitos nas paletes que acondicionavam um carregamento de ananases vindo, em contentores, da Costa Rica.
Entre os dominicanos detidos estava um residente em Barcelona, Espanha, e com antecedentes ligados ao narcotráfico nos Estados Unidos da América, país do qual, aliás, também tinha nacionalidade.
A partir de Espanha, este traficante montou uma empresa de importação de bens alimentares em Aveiro, gerida por dois compatriotas. A empresa importava fruta da Costa Rica e usava as instalações de Aveiro para retirar a droga dos esconderijos e enviá-la para o outro lado da fronteira.
Apesar do duro golpe, o cartel manteve a atividade e, no mês seguinte, a PJ, na operação “Toro II”, apreendeu mais 154 quilos de cocaína, em dois contentores chegados ao porto de Setúbal. O produto estupefaciente estava oculto em paletes com ananases.
Mais de cinco toneladas apreendidas
Só em Portugal, informou a PJ nesta quinta-feira, foram aprendidos 731 quilos de cocaína, em “cinco casos em que os contentores foram contaminados” com droga, e detidos sete dominicanos.
A informação sobre o cartel oriundo da Costa Rica foi partilhada com outras polícias europeias e sul americanas, o que permitiu, ao longo dos últimos meses, efetuar 26 apreensões de cocaína, num total de 5408 quilos. “Destas, cinco foram em Portugal (731 quilos), cinco na Bélgica (840 quilos), quatro na Holanda (733 quilos), duas na Alemanha (60 quilos), quatro em Espanha (1141 quilos) e sete na Costa Rica (1891 quilos)”, lê-se no comunicado.
Foram, ainda, detidas 37 pessoas: sete em Portugal, cinco na Alemanha e 13 em Espanha. Na Costa Rica foram detidos mais 12 traficantes, numa operação levada a cabo nesta quarta-feira.