Um empresário do Alto Minho, de 39 anos, foi detido pela Polícia Judiciária, esta semana, por deter duas empresas que, alegadamente, produziam lanchas rápidas para uma organização espanhola que se dedicava ao tráfico de droga, sobretudo haxixe. A investigação decorria há 15 meses e levou à apreensão de 21 lanchas em Portugal e 19 em Espanha. Neste país, a Guarda Civil de Pontevedra deteve 72 suspeitos.
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Alguns dos detidos em Espanha são empresários que, após a proibição das "lanchas voadoras" neste país, em 2018, assumiram a propriedade de empresas em Portugal para continuar a produzir as embarcações, informou ontem o coordenador da investigação ao tráfico na Diretoria do Norte da PJ, Avelino Lima.
A PJ do Norte fez oito buscas em armazéns e unidades de produção de lanchas - seis no Alto Minho, uma em Lisboa e outra no Algarve. Além de 21 lanchas em diferentes estados de produção (uma já estava totalmente equipada e tinha quatro motores de 300 cavalos), a PJ apreendeu dez cascos, um motor de 225 cavalos, seis moldes, documentação e mil euros em notas de 50.
O empresário minhoto foi detido, terça-feira, ao abrigo de um mandado europeu, emitido a pedido de Espanha. O Tribunal da Relação de Guimarães já o sujeitou a prisão domiciliária, com pulseira eletrónica. Mas, até este dispositivo ser instalado, está detido na cadeia de Custoias, disse o coordenador da PJ Avelino Lima.
Aquele empresário, já ligado à produção de barcos antes de se ligar à rede galega, vai prestar contas à justiça espanhola, por tráfico e associação criminosa, mas não perante a portuguesa, visto que, à luz da lei nacional, a produção das "lanchas voadoras" não é, por si só, ilegal. Pela mesma razão, não é expectável a imputação de responsabilidades criminais a funcionários das empresas daquele português, nem das outras seis alvos de buscas e detidas por espanhóis, admitiu Avelino Lima.
Uma tonelada de haxixe
As empresas portuguesas a que o grupo galego recorreu, depois de ser proibida a produção de "lanchas voadoras", recebiam encomendas de novas embarcações, preparavam-nas para o tráfico e colocavam-nas em água, em diferentes pontos da costa portuguesa e espanhola, já carregadas com grandes quantidades de combustível em bidões.
Segundo Avelino Lima, as lanchas iam à costa marroquina buscar haxixe, que desembarcavam, "essencialmente, no Sul de Espanha", mas também na costa portuguesa. Durante a investigação, "foram monitorizadas múltiplas ações ilícitas da organização criminosa com relevância probatória, tendo sido possível intercetar e apreender uma tonelada de haxixe no sul de Espanha", disse em comunicado a PJ.
Esta, porém, não exclui o uso das lanchas no transporte, também para Portugal e Espanha, de cocaína proveniente da América do Sul e transbordada de navios em alto-mar.
Portugal também vai proibir
Desde que foram proibidas em Espanha, inúmeras lanchas voadoras abandonadas têm sido encontradas e apreendidas na costa portuguesa, nos rios Minho, Lima e Sado. Houve também uma que foi encontrada, queimada, numa estrada da zona de Aveiro.
O coordenador da investigação ao tráfico na PJ do Norte, Avelino Lima, afirmou, em conferência de imprensa, que estará para breve a proibição, por nova lei, da produção de "lanchas voadoras" em Portugal.