Técnicas ensinadas por militares portugueses no Burkina Faso foram essenciais para sucesso de operação de combate ao Estado Islâmico.
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Uma unidade policial de elite formada com o apoio da GNR eliminou 47 terroristas, durante um ataque a duas bases do Estado Islâmico (EI) no Burkina Faso, esta semana. A operação representa um duro golpe na célula da organização terrorista radicada naquela zona de África.
A GNR, através do Grupo de Intervenção de Operações Especiais (GIOE) da GNR, integra o projeto GARSI-Sahel desde 2017 e está responsável pela coordenação das unidades do Mali e do Burkina Faso. A formação aos polícias locais é ainda ministrada por forças de segurança de Espanha, França, Itália.
As autoridades locais divulgaram que o ataque às duas bases do EI aconteceu após uma longa investigação e surpreendeu os jiadistas escondidos em Waribéré, a cerca de 40 quilómetros de Barani. Dos confrontos resultou a morte de 47 terroristas, mas também de dois elementos do Grupo de Ação Rápida de Vigilância e Intervenção, composto por militares do Burkina Faso. Outros três ficaram feridos. Para além da eliminação de quase meia centena de jiadistas, a operação permitiu a destruição e apreensão de "importantes quantidades de material" pertencente a esta célula do EI.
UE apoia com 41 milhões
O Grupo de Ação Rápida de Vigilância e Intervenção que protagonizou a operação agora revelada é constituído por polícias que receberam formação especializada dada através do GARSI-Sahel. Este projeto foi criado pela Comissão Europeia há cerca de três anos e beneficia de um financiamento superior a 41 milhões de euros, proveniente do Fundo Fiduciário.
O principal objetivo passa pela criação de unidades policiais de elite para lutar contra o terrorismo e criminalidade organizada, vigilância das fronteiras e combate ao tráfico, incluindo de seres humanos. Os países beneficiários são a Mauritânia, o Mali, o Níger, o Burkina Faso, o Chade - que compõem o Sahel - e o Senegal. A formação dos polícias locais está a cargo da GNR, dos espanhóis da Guardia Civil, da Gendarmerie Nacional (França) e da Guarda dei Carabinieri (Itália).
Formação fundamental
Atualmente, um coronel da GNR está a coordenar o trabalho realizado no Mali, enquanto um tenente-coronel é responsável pela vice-coordenação da missão a decorrer no Burkina Faso. Em agosto, atiradores furtivos (snipers) e elementos do Centro de Inativação de Explosivos e Segurança em Subsolo irão envolver-se em mais uma ação formativa.
O comandante do GIOE, tenente-coronel António Quadrado, irá participar numa iniciativa marcada para o Senegal. "Na primeira fase, a formação foi dada a oficiais e sargentos e, agora, será alargada aos restantes militares. Já foram formados cerca de 800 homens", refere o oficial.
O comandante do GIOE explica ao JN que coube à GNR ministrar formação sobre operações especiais, nomeadamente "técnica individual, de parelha e equipa". "Ensinámos como organizar e concretizar uma operação. A formação dada foi, por isso, fundamental, para o sucesso do que aconteceu nesta semana", acrescenta o oficial. E é essencial, diz, para o futuro de países com "zonas onde a autoridade é exercida por grupos terroristas".
VIOLÊNCIA
Mais de 1300 civis mortos por jiadistas, milícias e militares em 2019
Calcula-se que cerca de 1300 civis tenham sido mortos só durante o ano de 2019 no Burkina Faso, um aumento de 174% face ao ano anterior, segundo contas da ONG Armed Conflict Location and Event Data project. E se os dois principais atores das atrocidades no Sahel são os grupos afiliados da al-Qaeda (Jama"at Nusrat al-Islam wal-Muslimin) e do Estado Islâmico (EI no Grande Saara), a verdade é que muita da violência cabe a milícias locais, não raras vezes, às próprias forças governamentais, diz a ONG. As rivalidades entre etnias, algumas acusadas de apoiar os jiadistas, levam milícias a organizar-se para defender aldeias. A violência jiadista já fez mais de 50 mil deslocados no Norte do país.