Estigma persiste mas cada vez mais homens pedem ajuda por violência doméstica
A APAV apoiou em três anos mais de 2500 vítimas de violência doméstica do sexo masculino. Há casos de maridos agredidos pelas companheiras durante mais de 40 anos de casamento.
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Há cada vez mais homens a assumirem-se como vítimas de violência doméstica. Entre 2021 e 2023, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) registou um aumento de quase 39% de pedidos de ajuda, auxiliando um total de 2598 homens. Números que, devido a elevadas cifras negras, estão ainda longe de representar a realidade do fenómeno. Aliás, o assessor técnico da APAV Daniel Cotrim refere que os atuais dados referentes aos homens estão no mesmo ponto que, há 15 anos, estavam os relativos às mulheres, sendo preciso trilhar um caminho de desmistificação de preconceitos e estigmas para que todas as vítimas denunciem os crimes de que são alvo.
António, vamos chamar-lhe assim, é um exemplo desta realidade. Durante décadas, foi ameaçado, difamado e injuriado pela esposa. Dentro das quatro paredes de um lar que nunca foi seguro, o reformado por invalidez ouvia a companheira prometer que haveria de pôr-lhe veneno na sopa e que ninguém acreditaria nele se alguma vez se queixasse. Era ainda apelidado de inválido e de não contribuir para as despesas domésticas.