Ex-autarca de Vizela diz que perdeu família com processo judicial. "Vivo num quarto"
Dinis Costa, o antigo presidente da Câmara de Vizela, disse esta segunda-feira no tribunal de Guimarães, que o começou a julgar por crimes de peculato, peculato de uso e abuso de poderes que foi alvo de um "embuste" e de um "atentado" e que, por causa das notícias sobre este processo, "perdeu a família". "Atualmente vivo num quarto", admitiu, emocionado.
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O Ministério Público quer que o ex-autarca devolva ao Estado mais de 24 300 euros, "por constituírem vantagem da atividade criminosa que desenvolveu". Está acusado de, durante os dois mandatos em que liderou a autarquia, de 2009 a 2013 e desse ano até 2017, ter gasto, "no seu próprio interesse e benefício", 14 mil euros em combustível e portagens com viaturas da Câmara e pago contas de restaurantes, suas e de outros, no valor de 10.358 euros.
Na primeira sessão do julgamento, emocionado e com a voz embargada, o antigo edil vizelense, de 66 anos, lembrou ao tribunal que foi bancário durante 30 anos e sempre teve "ficha limpa", afirmando que, em virtude desta acusação e das notícias que vieram nos jornais, "por o Ministério Público não guardar o segredo de justiça", ter ficado "sem família". "Atualmente vivo num quarto, tenho que dividir uma casa", declarou Dinis Costa.
O ex-presidente da Câmara disse ainda que a "carta anónima" que originou a processo "foi um embuste e um atentado a mim e à minha família". E nomeou aquele que considera culpado. "´É um fato feito à medida pelo Arnaldo Guimarães." Costa pensa que este antigo jurista do Município "foi premiado pelo que fez, promovido a assessor e agora a vereador."
Logo que, ontem, foi confrontado com a acusação de uso indevido de viaturas da Câmara, o arguido denunciou que Arnaldo Guimarães, arrolado como testemunha, se tinha deslocado ao tribunal num carro que ele próprio era acusado de usar indevidamente, "apesar de não estar aqui em representação da Câmara."
"Eu nunca fui ao Algarve", reiterou, para rebater a acusação de se ter deslocado a Albufeira num carro do Município, na companhia de Anabela Costa Ribeiro, adiantando que as deslocações foram feitas "pelo arquiteto Abel" e pela sua assessora "em serviço". Segundo o Ministério Público, Costa terá usado ainda as viaturas "para se deslocar a espaços de diversão noturna" em Braga, Porto e Vigo. O seu motorista declarou também que o ex-presidente visitava duas amantes, em Braga e no Porto.
Cortesia a vereador francês
Relativamente ao cartão de crédito do Município, o ex-autarca nega que alguma vez o tenha usado de forma indevida. "Era usado por todos os vereadores em serviço. Eu fui o que o usei menos", garante. Quanto às refeições, Dinis Costa disse não se lembrar de todas. Sobre um almoço no restaurante Chez Michel, em França, afirmou que foi uma cortesia a um vereador da cidade de Frontignan, José Dantas. "Teve a amabilidade de me ir buscar ao aeroporto e fiquei alojado em casa dele, por isso paguei-lhe o almoço a ele e ao motorista", justificou. O julgamento prossegue.
Almoços grátis como numa empresa
Dinis Costa é acusado de ter feito "despesas de alimentação no valor global de mais de 10 mil euros", para si e para terceiros, como se gerisse uma empresa privada. Em tribunal, afirmou que o suplemento de despesas de representação era "para fatos e gravatas".
Divorciado desde 2018
Na acusação, o Ministério Público constata ter apurado um valor de 151 562 euros como correspondendo a património do arguido não compatível com os rendimentos lícitos que tinha declarado. Dinis Costa está divorciado, desde 2018 e foi declarado insolvente, em janeiro de 2020.