Ex-diretor das prisões volta a apontar dedo aos guardas prisionais na fuga de Vale de Judeus
O ex-diretor da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais reiterou esta quinta-feira, no Parlamento, que as "falhas de segurança graves" que estiveram na origem da fuga de cinco reclusos da cadeia de Vale de Judeus, a 7 de setembro, têm também de ser apontadas aos guardas prisionais de serviço.
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Rui Abrunhosa Gonçalves, que estava a ser ouvido na Assembleia da República a pedido da Iniciativa Liberal, do Partido Socialista e do Chega, começou a sua intervenção classificando a evasão como "muitíssimo lamentável e grave" e que só se pode "penitenciar por isso".
Reiterou, no entanto, que os 33 guardas existentes no dia da fuga eram suficientes para assegurar as tarefas. "É claro, para nós, que o número de guardas era o que estava estipulado para aquele dia, naquelas funções", disse, ressalvando que, apesar de não pôr em causa "o brio e o trabalho dos guardas", "é muito provável que tenha havido alguma falha nas rotinas". "Tirando esta fuga, nunca houve outra em mais de 24 anos", acrescentou Rui Abrunhosa Gonçalves, concluindo que "é preciso apurar responsabilidades, se alguém não fez o que devia ter feito ou se fez tardiamente".
Durante a sua intervenção, o ex-diretor frisou também que "não comenta as afirmações" da ministra da Justiça Rita Alarcão Júdice, de quem, revelou, não tem o número de telefone. Rejeitou também quaisquer atitudes "pidescas" para com elementos do corpo da guarda prisional.
Ouvido também na mesma audição, o ex-sub-diretor-geral Pedro Santos reiterou a existência de "falhas de segurança graves" e assumiu ser responsável por estas. Disse também desconhecer quantos processos disciplinares foram instaurados sobre o caso, recordando que deixou aquelas funções a 10 de setembro.
Cinco reclusos fugiram a 7 de setembro do Estabelecimento Prisional de Vale de Judeus, em Alcoentre, no concelho de Azambuja, Lisboa. A ministra da Justiça só falou publicamente da fuga três dias depois para afirmar que resultou "de uma cadeia sucessiva de erros e falhas muito graves, grosseiras e inaceitáveis".
Com base no relatório da auditoria à atuação dos serviços de vigilância e segurança, que foi elaborado pela Divisão de Serviços de Segurança da Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, Rita Alarcão Júdice explicou que a fuga dos reclusos "demorou seis minutos" e só foi detetada cerca de uma hora depois.
Os evadidos são dois cidadãos portugueses, Fernando Ribeiro Ferreira e Fábio Fernandes Santos Loureiro, um cidadão da Geórgia, Shergili Farjiani, um da Argentina, Rodolf José Lohrmann, e um do Reino Unido, Mark Cameron Roscaleer, entre os 33 e os 61 anos. Foram condenados a penas entre os sete e os 25 anos de prisão, por vários crimes, entre os quais tráfico de droga, associação criminosa, roubo, sequestro e branqueamento de capitais.