Ex-diretor de "O Jogo" defende interesse público da divulgação dos e-mails do Benfica
José Manuel Ribeiro, que foi diretor do jornal "O Jogo" entre 2011 e julho deste ano, afiançou em tribunal, esta sexta-feira, o interesse público e jornalístico da divulgação dos e-mails pelo "Porto Canal". "Isso nem se discute, toda a imprensa deu muita importância ao caso, acompanhou-o sempre, chamou-o a manchete e abriu alinhamentos dos telejornais", afirmou o jornalista, questionado pela defesa dos arguidos acusados.
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Para José Manuel Ribeiro, os emails divulgados tinham interesse público e jornalístico porque evidenciavam "tentativas de condicionamento a árbitros" e sugeriam que algumas pessoas tinham poderes acima dos seus cargos. Neste caso, o jornalista referia-se ao poder que o assessor jurídico do Benfica Paulo Gonçalves pareceu ter, designadamente numa troca de e-mails com Mário Figueiredo, sobre a nomeação de delegados pela Liga de Clubes.
O anterior diretor do jornal "O Jogo" - propriedade do Global Média Group, a que também pertence o JN - considerou que o email mais comprometedor foi o primeiro a ser divulgado e que fazia referência a "padres e missas". "Temos duas pessoas - Adão Mendes, ligado à arbitragem da Associação de Futebol de Braga, e Pedro Guerra, ligado ao Benfica - a afirmar que escolhem árbitros para jogos. E, nesse email, no final, até é escrito 'apaga tudo', o que mostra que estavam conscientes da gravidade da mensagem", assinalou ainda a testemunha, no julgamento do diretor comunicação do F. C. Porto, Francisco J. Marques, do ex-diretor-geral do "Porto Canal" Júlio Magalhães, e do atual diretor de conteúdos da estação, Diogo Faria, por crimes relacionados com a divulgação, há mais de quatro anos, de e-mails do Benfica.
José Manuel Ribeiro também foi questionado, pela defesa dos assistentes, em relação à forma como os e-mails foram obtidos por Francisco J. Marques. "Em 33 anos de profissão, as notícias mais importantes partiram de documentos e informações dadas por fontes que não as deviam ter ou poder divulgá-las", respondeu. José Manuel Ribeiro foi ainda questionado sobre se era dever do jornalista aferir a fonte de informação, que mais tarde viria a ser apontado pela imprensa internacional como sendo o Rui Pinto, criador do Footbal Leaks. "É como se recebesse uma encomenda com faca ensanguentada. Primeiro queremos saber quem matou e quem morreu. Quem enviou a encomenda vem depois", declarou.
José Manuel Ribeiro confirmou também ter recebido os emails, a seu pedido, de Francisco J. Marques, depois de os mesmos terem sido divulgados no "Porto Canal". "Ele tinha receio em enviar-me os e-mails por quaisquer motivos legais de que não me recordo bem", acrescentou.
Francisco J. Marques, de 56 anos, responde por seis crimes de violação de correspondência ou de telecomunicações, três dos quais agravados, e um de acesso indevido; Júlio Magalhães, de 59 e atualmente jornalista noutra estação de televisão, por três crimes de violação de correspondência ou telecomunicações agravados; e Diogo Faria, de 32, por um crime de violação de correspondência ou telecomunicações e um de acesso indevido. Estão ainda os três acusados de ofensa a pessoa coletiva.