Esquema BBom foi importado do Brasil, onde fez um milhão de vítimas. Antigo espião era considerado numero três da estrutura em Portugal, que aqui gerou dois milhões de lucro.
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Chamava-se BBom e era um esquema importado do Brasil, onde lesou um milhão de pessoas. Em Portugal, a pirâmide financeira prejudicou, entre 2015 e 2016, centenas de indivíduos que acreditavam em lucros extraordinários em tempo recorde. Mas os rendimentos de dois milhões de euros, provenientes da captação massiva de novos membros, foram apenas para os bolsos de sete arguidos, atualmente em julgamento no Tribunal de Sintra. Entre eles está um antigo diretor regional do Serviço de Informações de Segurança (SIS). O esquema foi desmantelado pela Polícia Judiciária de Lisboa.
João Nepomuceno Andrade, hoje com 64 anos, que foi polícia de segurança pública até integrar o SIS, chegou ao topo da carreira e aposentou-se como diretor regional da Madeira, em 2003. Segundo a acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), entrou no esquema piramidal BBom no final de 2015. Antes, tinha sido líder de uma outra bolha, a chamada Wings, num caso pelo qual já foi acusado de burla e branqueamento de capitais (ler caixa).
A BBom foi criada no Brasil, por João Francisco de Paulo, um indivíduo do Rio de Janeiro atualmente a braços com a justiça local. Em Portugal, também foi acusado, mas está a ser julgado à revelia, por nunca ter comparecido perante a justiça. O seu braço-direito era, segundo o DCIAP, Jorge Pires, um gestor residente em Cascais, que abordou João Nepomuceno Andrade para participar na implementação da BBom em Portugal, por o ex-espião já ter experiência neste tipo de pirâmide financeira.
Café, colchões e GPS
Oficialmente, a BBom consistia num negócio de "microfranchising", onde cada franqueado beneficiaria dos resultados obtidos pelas supostas vendas feitas pela sua rede. Nas campanhas de divulgação, o objetivo era a venda de geolocalizadores (GPS), mas também de colchões magnéticos, café, perfumes, vestuário e máquinas de "vending".
Na prática, o esquema consistia num sistema dissimulado de captação de fundos de novos investidores que serviam para pagar a quem já tinha entrado na rede. Aos "franqueados" que angariavam novas pessoas prometia-se a contrapartida de virem a receber ganhos elevados. Eram, portanto, ganhos passivos, sem venda de produtos associada. "Este esquema atrai investidores pela promessa de retornos extraordinários, acima das médias de mercado e em tempo recorde. Sustenta-se através do recrutamento ou captação contínua de novos franqueados ou membros, sem os quais não há pagamento aos investidores mais antigos", explica a acusação.
Em abril de 2016, um dos arguidos publicitou junto da mesma rede o lançamento da moeda virtual "VibeCoin", incentivando as pessoas a investir mais dinheiro. Conseguiu captar dezenas de investidores, que não obtiveram o retorno prometido e nem chegaram a ser reembolsados.
Só com este esquema os arguidos lucraram cerca de 55 mil euros.
Arguido no esquema da Wings
Em fevereiro do ano passado, 11 arguidos e duas empresas foram acusadas de associação criminosa, burla e branqueamento no caso da burla em pirâmide "Wings". A fraude, criada por cidadãos brasileiros, atualmente em parte incerta, tinha na liderança em Portugal João Nepomuceno Andrade. Num ano, angariaram, a partir de Portugal, cerca de 13 mil clientes em todo o Mundo e mais de 15 milhões de euros.
Pormenores
Contas bancárias
Para canalizar o dinheiro dos lesados, os arguidos usaram várias contas bancárias em Portugal e tituladas por diversas sociedades. O dinheiro seguia depois para o estrangeiro.
Transferências
Foram registadas transferências para o estrangeiro, realizadas para uma diversidade de beneficiários localizados em Singapura, EUA, China e Brasil, de um total de 1,8 milhões.
Enganados
Em junho de 2016, quatro arguidos alegaram num comunicado que tinham sido enganados por João de Paulo e que este ficou com o dinheiro de todos no Brasil.