Começa esta segunda-feira o julgamento por furto das armas de Tancos e encobrimento, que envolve antigo líder da Defesa, altas figuras da PJM e GNR, mas também condenados por crimes violentos.
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Acusado de ter dado cobertura à recuperação encenada de parte do armamento furtado do paiol militar de Tancos, o ex-ministro da Defesa senta-se esta segunda-feira, no Tribunal de Santarém, num banco de arguidos, com altas patentes da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, mas também acompanhado de nove indivíduos ligados à criminalidade violenta, como João Paulino, o "mentor" do assalto às instalações militares. Será a primeira vez que um alto responsável político é julgado lado a lado com cadastrados por crimes de tráfico de droga, tráfico de armas, roubo e lenocínio.
Acusado de denegação de justiça, prevaricação, favorecimento pessoal praticado por funcionário e abuso de poderes, Azeredo Lopes sempre negou saber da encenação da recuperação das armas de Tancos, a 18 de outubro de 2017, liderada pela PJM em parceria com elementos da GNR e cadastrados.
Mas, de acordo com o Ministério Público, cuja acusação foi validada pelo juiz de instrução Carlos Alexandre, o ex-ministro da Defesa soube da investigação secreta e ilegal da PJM dois meses antes da encenação. E foi informado de que esta polícia até estava a negociar a entrega do material com um dos suspeitos do assalto.
Luís Vieira, ex-diretor da PJM, tido como o homem que deu ordens para recuperar o material a todo o custo, nem que para isso se encobrissem os autores, terá informado pessoalmente o seu então ministro. Segundo o MP, essa reunião aconteceu a 4 de agosto de 2017. Vieira estaria furioso por a investigação ter sido confiada, pelas mais altas instâncias do MP, à PJ civil. Daí ter fomentado uma investigação paralela e clandestina.
Azeredo posto a par
Numa reunião no Ministério da Defesa, Luís Vieira confessou a sua mágoa a Azeredo Lopes, de quem era próximo. Segundo a acusação, "transmitiu-lhe a ideia de que não seria o despacho do Ministério Público que iria impedir a PJM de fazer diligências e recuperar o material" e "deu-lhe conhecimento da existência de um indivíduo que tinha subtraído e escondido o material militar". Vieira explicou ao então governante que a investigação paralela contava com a colaboração de militares da GNR de Loulé. Tudo com a concordância de oficiais da Guarda, que também se sentam hoje no banco dos arguidos. Luís Vieira sustentou sempre desconhecer a existência de João Paulino, mentor do assalto, próximo de um investigador da GNR de Loulé, a quem terá proposto a entrega das armas mediante a garantia de ficar impune.
Brazão confessou
Mas o major Vasco Brazão, então porta-voz da PJM que já confessou o encobrimento de Paulino e a encenação, garantiu ao MP e ao juiz Carlos Alexandre que Luís Vieira era o cérebro da operação de recuperação do armamento.
Os outros nove arguidos, acusados de participar no furto, vão responder por associação criminosa, tráfico de armas, terrorismo, recetação e falsificação de documento.