Ex-ministro da Defesa empurrou responsabilidades nas obras do Hospital Militar de Belém
O ex-ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, testemunhou que competia ao seu então secretário de Estado, Jorge Seguro Sanches, acompanhar os custos da obra no Hospital Militar de Belém e que, à data, não identificou uma atuação dolosa no caso do então diretor-geral Alberto Coelho, entretanto acusado.
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De acordo com o semanário "Expresso", João Gomes Cravinho, atualmente detentor da pasta dos Negócios Estrangeiros, respondeu por escrito, ainda na fase de inquérito da operação "Tempestade Perfeita", a 25 perguntas do Ministério Público a 1 de agosto de 2023, dez dias antes de ser deduzida a acusação contra Alberto Coelho e outros 72 arguidos.
Nem o ministro nem Jorge Seguro Sanches foram acusados de qualquer crime.
A obra no Hospital Militar de Belém, lançada em 2020 e cujos custos derraparam de 700 mil para 3,2 milhões de euros, é uma das várias sob suspeita num esquema que, desde 2019 e segundo o Ministério Público, terá lesado o Estado em 1,4 milhões de euros. Em causa estão crimes de corrupção e peculato, entre outros ilícitos.
"Nada fazia prever o custo final da obra [no Hospital Militar de Belém]. Aliás, das reuniões havidas entre a Direção-Geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN) e o secretário de Estado Adjunto com competências delegadas nesta matéria, que eu saiba, a DGRDN nada sinalizou ao secretário de Estado sobre o aumento de custos desta obra. Caso contrário, o secretário de Estado ter-me-ia transmitido, o que não aconteceu", respondeu a 1 de agosto de 2023 aos procuradores João Gomes Cravinho, citado, esta terça-feira, pelo "Expresso".
O governante precisou que, assim que recebeu a "informação mais indicativa do custo real" das obras, remeteu o caso "de imediato para a Inspeção-Geral da Defesa Nacional" (IGDN), que daria origem à operação "Tempestade Perfeita", ocorrida em dezembro de 2022.
Apesar de, em 2020, não ter descortinado qualquer intenção de Alberto Coelho de praticar ilegalidades no âmbito daquele procedimento, João Gomes Cravinho acabou por comunicar ao então diretor-geral, por não estar "satisfeito com a condução do processo", que o seu mandato à frente da Direção-Geral de Recursos de Defesa Nacional não seria renovado.
"Era claro para mim, naquele momento, e isto veio a ser confirmado pouco depois, a 28 de dezembro de 2020 no relatório da IGDN, que o Dr. Alberto Coelho havia cometido erros na gestão do processo do HMB [Hospital Militar de Belém]. Ou seja, no momento de não renovação do mandato como DGRDN, já me parecia provável que haveria diversas 'inconformidades legais', que foi a expressão utilizada pela IGDN no seu relatório, mas eu não tinha suspeitas quanto à existência de improbidade ou dolo no comportamento do Dr. Alberto Coelho", sublinhou, ainda segundo o semanário, o governante.