Manuel Pinho vai justificar "quando for adequado" dinheiro recebido no Governo da esfera do BES/GES.
Corpo do artigo
O ex-ministro Manuel Pinho promete que "quando for adequado" vai explicar os pagamentos que recebeu do BES/GES enquanto foi ministro da Economia (2005-2009) e a sua transferência para uma offshore no Panamá. O Ministério Público (MP) crê que em causa estão "luvas" pagas por Ricardo Salgado, ex-presidente do BES, que terão rendido ao antigo governante e à mulher, Alexandra Pinho, mais de cinco milhões de euros.
14415951
A garantia de que Manuel Pinho, de 67 anos, irá justificar mais tarde o dinheiro recebido foi dada pelo advogado do casal, Ricardo Sá Fernandes, ao contestar, anteontem, as medidas de coação propostas pelo Ministério Público para os seus clientes, no âmbito do processo de rendas da EDP.
Alexandra Pinho ficou, por decisão do juiz Carlos Alexandre, em liberdade, mas obrigada a apresentar-se quinzenalmente às autoridades e a prestar uma caução de um milhão de euros. Já o ex-ministro vai ficar preso em casa (ler caixa), a não ser que entregue seis milhões de euros de caução. Sá Fernandes fez saber que o casal não possui este montante e, por isso, não vai cumprir a obrigação. Qualquer um deles poderia optar por dar bens como garantia.
A caução de seis milhões de euros é a mais elevada de sempre em Portugal, mas o procurador Hugo Neto queria ver aplicada uma ainda mais alta: dez milhões de euros. E só se o juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal entendesse, como sucedeu, não aplicar ao ex-ministro prisão preventiva ou domiciliária.
salários sob suspeita
Juiz e procurador concordaram que existe o risco de o casal fugir, por, nomeadamente, residir em Espanha e ser dono de um apartamento em Nova Iorque. A defesa discorda e vai recorrer das medidas de coação.
Manuel Pinho tem negado os crimes e, anteontem, Sá Fernandes insistiu que Alexandra Pinho não contribuiu para a criação da offshore em causa, da qual será beneficiária. Mas, para o MP, o salário da mulher como curadora da coleção BES Art está entre as alegadas contrapartidas, dadas ao casal, de mais de cinco milhões de euros. Também se inclui aqui o ordenado recebido por Manuel Pinho no BES África após sair do Governo de José Sócrates. "Indicia-se um intricado jogo de conjunções de interesses que a nosso ver tem relevância criminal", concluiu Carlos Alexandre.
