A Polícia Judiciária realizou buscas no Estádio do Bessa na terça-feira. A SAD axadrezada criou contabilidade paralela e parte do dinheiro terá sido desviado.
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O ex-presidente do Boavista Vítor Murta é suspeito de ter desviado meio milhão de euros do clube. Tê-lo-á feito aproveitando uma contabilidade paralela criada para evitar pagamentos aos credores, sobretudo ao Estado, quando as dificuldades financeiras já eram graves. Vítor Murta, outros administradores da sua direção e duas empresas do universo do Boavista foram ontem alvo de buscas e constituídos arguidos numa operação da Polícia Judiciária (PJ).
Passavam poucos minutos das 9 horas quando inspetores, o juiz de instrução criminal Pedro Miguel Vieira e um procurador chegaram ao Estádio do Bessa e pediram para entrar. Os funcionários não abriram a porta, que, logo depois, seria arrombada à força de um aríete, para que os polícias acedessem às instalações e ali permanecessem até ao início da noite a recolher provas.
A PJ justificou a operação com o “cumprimento de dez mandados de busca”, na sequência de uma investigação a factos “ocorridos entre 2023 e finais de 2024”. Em causa, estão “crimes de fraude fiscal, frustração de créditos e branqueamento, praticados por quadros dirigentes, contabilistas certificados, escritório de advogado e sociedade de revisores oficiais de contas”.
O JN apurou que o principal alvo da investigação é Vítor Murta. A PJ suspeita que, numa altura em que a sobrevivência do Boavista já estava em perigo devido a dívidas acumuladas, os acionistas da SAD injetaram dez milhões de euros, mas este montante não entrou nas contas oficiais. Antes foi transferido para uma contabilidade paralela assente em contas bancárias, nacionais e estrangeiras, em nome de administradores da SAD, de seus familiares e de empresas do universo boavisteiro.
O esquema contabilístico ilegal incluía ainda “transferências internacionais e depósitos em numerário de origem e destino não clarificados”.
Evitar confisco
O objetivo principal era impedir que os dez milhões fossem confiscados para pagar dívidas à Segurança Social ou ao Fisco e, simultaneamente, permitir aos responsáveis axadrezados escolher os fornecedores a pagar e, dessa forma, manter a equipa de futebol sénior em competição.
Só que parte daquele montante, que circulava sem suporte documental e maioritariamente em notas, não foi usada para pagar dívidas do Boavista. Vítor Murta terá desviado cerca de meio milhão de euros para a sua esfera pessoal, suspeita a PJ.
Para já, não está descartada a possibilidade de Gerard Lopez, principal acionista da SAD, ser constituído arguido, uma vez que a PJ quer saber porque aceitou transferir milhões de euros para contas oficiosas.
A SAD, segundo os atuais administradores, “não foi constituída arguida”, sendo “alegada lesada”. Rui Garrido Pereira, presidente do clube, assegurou que este também não é arguido. Já as sociedades Boavista Unipessoal e a Boavista Comercial, apurou o JN, são arguidas.
“Não estava à espera disto e fiquei surpreendido com os factos em investigação. Mas não irá comprometer o plano de recuperação em marcha”, garantiu, ao JN.