Um moldavo, que foi expulso de Portugal por liderar uma das primeiras máfias do Leste a atuar no país e estava proibido de entrar no Espaço Schengen até 2028, na sequência de duas condenações por crimes como associação criminosa, sequestro e extorsão, foi detido novamente, na manhã desta quinta-feira, em Sintra.
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Ghennadie Gheorgue Flocea, de 50 anos e conhecido no mundo do crime e pelas autoridades policiais pela alcunha de “Borman”, liderava, a partir de Portugal, uma fábrica ilegal de cigarros da marca Marlboro, em Espanha. No passado, foi o chefe de uma rede de imigração ilegal, cujas vítimas eram recrutadas, sobretudo, na Ucrânia e Moldávia. Os homens alvo desta rede eram explorados em obras da construção civil em Portugal, enquanto as mulheres eram obrigadas a prostituírem-se.
Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que procedeu à detenção com a colaboração da Polícia Judiciária, a rede criminosa tinha células em Portugal, Espanha, França, Alemanha, Ucrânia e Moldávia e era a partir destes países que praticava os crimes de falsificação de documentos, associação criminosa, fraude fiscal e contrabando transnacional de tabaco.
A investigação “Three Strikes” apurou também que o grupo liderado por “Borman” usou um armazém em Ourense, Espanha, para montar uma fábrica ilegal de cigarros da marca Marlboro, que laborava com recurso a mão de obra ilegal. Muitos dos trabalhadores chegavam a Espanha da mesma forma que, no início deste século, vinham para Portugal. Ou seja, ilegalmente.
Vítimas eram extorquidas e agredidas
Os homens e mulheres eram recrutados na Ucrânia e Moldávia com a promessa de trabalho bem remunerado e boas condições de vida, sendo transportados pela Europa em carrinhas. Contudo, durante o percurso, os imigrantes eram regularmente intercetados em bombas de combustível por elementos da máfia e, com a colaboração dos motoristas das viaturas, extorquidos ao longo da viagem. Todos eram ameaçados e muitos deles foram agredidos com violência.
“À chegada a Portugal, os imigrantes eram despojados dos seus pertences, documentos e dinheiro, ficando à mercê da rede criminosa. Os homens aguardavam colocação em obras de construção civil, enquanto as mulheres eram colocadas em casas de alterne e de prostituição”, descreve o SEF. Este órgão de polícia criminal acrescenta que as vítimas “eram obrigados a pagar, sob ameaças e agressões, metade do seu ordenado sob o pretexto de uma alegada proteção contra outros mafiosos”.
Escapou aos radares das polícias e regressou a Portugal
Devido a estes crimes, “Borman” foi condenado, em maio de 2002, pelo Tribunal de Cascais, a 18 anos de prisão. Associação criminosa, sequestro, extorsão, detenção de arma proibida, auxílio à imigração ilegal e falsificação de documentos foram os crimes dados como provados.
Mantido preso em Portugal, o líder da rede de Leste seria, em 2018, condenado noutro processo. Desta vez, a pena aplicada foi de oito anos de prisão, por falsificação de documentos. No âmbito deste processo, o coletivo de juízes decretou, como pena acessória, a expulsão de Portugal e a proibição de regressar aos países do Espaço Schengen até 2028.
Foi o próprio SEF que levou “Borman” até ao país natal, mas este voltou a Portugal sem que ninguém desse conta. Instalou-se em Sintra e foi aí que, nesta quinta-feira, foi detido. Nos próximos dias, será levado ao Tribunal da Relação de Lisboa, que decidirá se “Borman” será expulso novamente ou ficará detido em Portugal.