Extorquia dinheiro nas saídas precárias de Custóias mas "nunca quis enganar ninguém"
Um recluso acusado por intimidar e extorquir dezenas de pessoas durante as saídas precárias da cadeia de Custóias, Matosinhos, confessou, esta segunda-feira, ao Juízo Central Criminal do Porto parte dos ilícitos que lhe foram imputados
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Segundo o Ministério Público (MP), o homem, de 47 anos, estava a cumprir uma pena de nove anos e três meses de prisão e aproveitava as saídas precárias - e depois a liberdade condicional - para oferecer serviços de recuperação de dívidas, acabando por ameaçar e extorquir os devedores e os próprios clientes.
Terá intimidado mais de 120 pessoas e extorquido um total de 107 mil euros, em crimes consumados a partir de 2016, com a colaboração de duas mulheres, coarguidas no processo.
O principal arguido - que tem vários antecedentes criminais, alguns por práticas similares, e que voltou à cadeia em 2018 - exigia aos seus alvos pagamentos de determinados montantes, coagindo-os com ameaças de agressão ou mesmo de morte, tal como as suas famílias, conforme indica a acusação.
Numa da situações, referida pelo MP e repescada em tribunal pela presidente do coletivo de juízes, o homem foi contratado para cobrar uma dívida e exigiu à cabeça 200 euros, a título de despesas a efetuar. Mas depois, em vez de entregar os valores cobrados ao credor em prestações mensais, depositou-os na sua conta.
Após várias insistências da magistrada judicial para que justificasse o procedimento, e na sequência de algumas respostas evasivas, o autointitulado "recuperador de dívidas" acabou por nada explicar.
O que sempre foi dizendo é que "nunca quis enganar ninguém".
Afirmou também saber que não podia recorrer à intimidação para cobrar dívidas, mas quando questionado pela juiz-presidente sobre se não teria dito a uma vítima que encarregaria terceiros de o agredir, respondeu: "certamente devo-lhe ter dito qualquer coisa".
Numa alusão a outro caso, admitiu ameaças a um alegado devedor.
"Disse que lhe partia as pernas?", quis saber a juíza-presidente, apoiada no texto da acusação.
"Devo ter dito", anuiu.
O julgamento estava marcado para as 14:00, tendo começado uma hora mais tarde por demora no transporte do detido ao tribunal.
O coletivo de juízes reagiu, solicitando ao presidente da Comarca que interceda junto dos estabelecimentos prisionais para se evitar situações similares.
A sessão de julgamento foi ainda marcada pela ausência do advogado de uma assistente no processo, quando o arguido já depunha há mais de hora e meia.
Para evitar uma irregularidade processual, o tribunal optou por suspender os trabalhos, prosseguindo-os na manhã de terça-feira já com a presença do advogado em causa.
Durante essa sessão, o principal acusado vai continuar o seu depoimento, prevendo-se também a audição das duas coarguidas.