Falsos médicos e construtores simularam compra de carros de luxo e venderam-nos
Grupo de 17 arguidos vai ser julgado por falsificar documentos bancários para se apoderar de automóveis de gama alta que estavam à venda na Internet.
Corpo do artigo
Os suspeitos fizeram-se passar por médicos e construtores civis, "com uma situação financeira abastada", ao responderem a anúncios, feitos na Internet, de automóveis de gama alta usados. Depois, simularam os pagamentos, por transferência bancária, e revenderam as viaturas, a preços de saldo, em Espanha. Mas as burlas foram investigadas pelo Ministério Público, que já acusou 17 homens de um total de 133 crimes. O arranque do julgamento está marcado para quarta-feira, 8 de março, no Tribunal de Viseu.
Segundo a acusação, os arguidos, com idades entre 22 e 50 anos, estabeleceram contacto com as vítimas, em sites de venda de carros, e usaram documentos de identificação e bancários falsos para comprarem automóveis, nomeadamente das marcas Ferrari e Porsche, avaliados em centenas de milhares de euros. Os pagamentos eram simulados através de transferências bancárias fictícias, mas, até que os proprietários se apercebessem de que não tinha entrado dinheiro nas suas contas, o registo de propriedade dos automóveis era alterado.
Ferrari por 22 mil euros
O esquema foi sinalizado pelas autoridades em 2019, quando o grupo se apoderou de um Ferrari Modena. O proprietário, de Lamego, publicara um anúncio na Internet para vender o veículo por 90 mil euros e foi contactado por um dos burlões. "Por forma a dar credibilidade ao negócio e manifestar uma situação financeira desafogada, o arguido referiu falsamente ser empresário no Algarve e em Angola, possuindo uma residencial no Algarve, apresentando para tal um discurso aprazível e bem-falante", descreve a acusação. O negócio foi fechado por 87 mil euros.
No ato da compra, o burlão mostrou um falso documento de transferência bancária para ficar com a viatura. Em menos de 24 horas, e sem que o proprietário conseguisse validar a suposta transferência junto do seu banco, o grupo registou o Ferrari em nome de outra pessoa, levou-o para Espanha e vendeu-o por 22 mil euros.
O esquema repetiu-se, por exemplo, com um Porsche 911, avaliado em 50 mil euros, cujo dono também era de Lamego. O automóvel haveria de ser localizado em Madrid, depois de ser revendido por 36 mil euros.
A fraude fez vítimas por todo o país, mas pelo menos seis pessoas que foram abordadas pelos burlões desconfiaram deles e escaparam. Todos os veículos foram recuperados pelas autoridades espanholas e portuguesas e entregues aos legítimos proprietários.
O Tribunal de Viseu vai julgar os arguidos de um total de 133 crimes de burla qualificada, falsificação de documentos e detenção de arma proibida. Seis dos suspeitos encontram-se em prisão preventiva.
Pormenores
Cabecilha é brasileiro
O principal arguido, Fabrizio Soares, conhecido por "Chinês", está acusado de 26 crimes entre burla qualificada e falsificação de documentos. Tem 31 anos e é de nacionalidade brasileira. Com o esquema, apoderou-se de quase meio milhão de euros. Está preso preventivamente no Estabelecimento Prisional de Leiria.
Vítimas de norte a sul
Os proprietários dos automóveis eram selecionados por área geográfica de forma a rentabilizar as despesas e as deslocações a efetuar pelos arguidos. O contacto com as vítimas era realizado através de telemóveis que possuíam por curtos períodos de tempo, para não serem identificados.
327 mil euros
É este o valor que o Ministério Público pede que se declare perdido a favor do Estado e que deve ser pago por 11 dos 17 arguidos.