A família da grávida desaparecida da Murtosa prometeu "vingança", reagindo à absolvição total do único arguido, o empresário Fernando Valente, ilibado esta terça-feira da acusação de ter assassinado Mónica Silva, a 3 de outubro de 2023.
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Na sala de audiências, quando se percebeu que Fernando Valente seria absolvido, a primeira reação dos familiares de Mónica Silva partiu da irmã mais nova, Sandra Silva, afirmando "já não querer ouvir mais nada", saindo logo do Tribunal de Aveiro.
Assim que o acórdão absolutório acabou de ser lido pela juíza-presidente, Diana Tavares Nunes, geriu-se a confusão, tendo os agentes da PSP fechado logo a porta da sala de audiências, mas os familiares da vítima já tinham saído, vociferando no átrio.
Os protestos mais ruidosos partiram de Celeste Barbosa, a mãe de Mónica Silva, que não poupou críticas à juíza-presidente, afirmando, bastante exaltada, que "a juíza não tem filhos" e salientando, depois, que "a juíza não pode ser mãe".
Sara Silva, a irmã gémea de Mónica Silva, acusou o júri de compactuar com o arguido: "Comem da mesma gamela que eles, todos os da família de Fernando Valente, quero ver se agora quando a gente tratar diretamente do caso, as juízas nos vão tratar da mesma maneira".
"Uma autêntica palhaçada", tia revoltada com a decisão
Também Filomena Silva, tia da mulher desaparecida, que tem sido muitas vezes a porta-voz da família, era o rosto da desolação e da revolta pela absolvição de Fernando Valente.
"Hoje não foi feita justiça aqui no Tribunal de Aveiro, isto não é justiça nenhuma, isto foi uma autêntica "palhaçada", aquela gente lá dentro não tem vergonha na cara, é gente sem sentimentos, não querem saber dos dois órfãos", disse Filomena Silva. "Chegaram ao ponto de dizer, na sentença, que a Mónica não está morta, isto é brincar com os sentimentos da família, toda a gente sabe que, infelizmente, a Mónica está morta".
À porta do Palácio da Justiça de Aveiro, Filomena Silva declarou aos jornalistas que "nem sequer deram a Mónica como morta para arrumarem definitivamente com isto tudo", afirmou aos jornalistas que "a partir de agora é que vai ser o fim da macacada".
Segundo Filomena Silva, "vai haver de certeza retaliações na Murtosa, pois nós não queremos aquela gente a viver na Murtosa, nem este filho que foi absolvido, nem os pais dele, como esta é a justiça que temos, vamos resolver as coisas à nossa maneira".
Para Filomena Silva, "aqui neste julgamento os jurados foram apenas um verbo de encher, porque quem manda mesmo são as três juízas e entre elas é a juíza-presidente, a que leu a sentença", desvalorizando a intervenção dos jurados no acórdão.
Acerca das conclusões do Tribunal do Júri, segundo as quais Mónica Silva teria uma relação com Fernando por "interesses de ordem financeira", Filomena Silva começou por referir que "a Mónica não precisava dele para nada e nem do dinheiro dele".
Segundo a tia de Mónica Silva, "a juíza-presidente não provou nada, ela mesmo o disse, à nossa frente, na sala de audiências, andou este tempo todo a brincar com os sentimentos da nossa família, este Tribunal estava "comprado" pelo Fernando Valente".