Centenas de pessoas de nacionalidade nepalesa, tailandesa e malaia habitavam em condições desumanas num armazém na zona do Samouco desde o início da pandemia.
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O espaço, um antigo restaurante que organizava casamentos devido à sua dimensão, a cinco minutos da Praia do Samouco, servia como albergue de centenas de pessoas, vítimas de tráfico de seres humanos. Trata-se de famílias inteiras que estão, esta quarta-feira, a ser identificadas pelas autoridades.
O espaço tinha também tanques de depuração de amêijoa do Tejo e era um novo centro, desde a pandemia, para venda da amêijoa capturada por mariscadores que não habitavam no local. Os que viviam no armazém entregavam o produto da captura aos que depois tratavam da exportação da amêijoa para outros países.
O advogado do proprietário da empresa que explora o espaço esclareceu, à saída do local, que o seu constituinte não foi detido e que conheceu a operação através das notícias. "O meu constituinte está de férias e ligou-me para vir ao local para perceber o que estava a acontecer. Percebi que havia um mandado de buscas e apreensão e dei conta às autoridades que estamos disponíveis para colaborar com a investigação", disse Abel Correia.
O advogado explicou que as pessoas que viviam no local, que estão a ser alvo de identificação pelas autoridades, tinham contrato de arrendamento celebrado com a empresa do seu constituinte. Questionado sobre as condições de habitação, disse que "não estamos a falar de uma vivenda na Quinta da Marinha, mas pareceu-me normal do que vi por fora".
A Polícia Marítima deteve até ao fim da manhã desta quarta-feira quatro pessoas de nacionalidade portuguesa.
Nesta operação da Unidade Central de Investigação Criminal da Polícia Marítima, onde está incluída ainda a exploração laboral humana, estão empenhados no terreno 161 agentes da Polícia Marítima, acompanhados por 22 inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), inspetores da Autoridade Tributária e cerca de uma centena de operacionais da PSP.
Em comunicado, a Autoridade Marítima Nacional (AMN) refere que a operação conta também com a colaboração do Serviço de Informação e Segurança (SIS), no âmbito da análise operacional.
O SEF identificou 243 imigrantes, tendo notificado nove cidadãos estrangeiros para comparência no SEF, a fim de esclarecer a sua situação em território nacional.
Esta operação decorre no âmbito de mais de três dezenas de mandados de busca, detenção e apreensão, e as diligências irão desenrolar-se ao longo do dia.