Manuel Serrão cedo deu nas vistas pelo imponente porte físico e a forte vontade de experimentar coisas novas. Depois do estágio de advocacia, no qual tratou de um só caso, foi jornalista, cronista de escárnio, comentador desportivo e empresário ligado aos têxteis, auto-intitulando-se um “feirante de trapos”.
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Nasceu em 1959, no Porto. Ainda adolescente entregou-se à sua paixão pelas causas e pelo associativismo. Foi dirigente estudantil e da Juventude Centrista, tendo estado presente - do lado de dentro - no célebre cerco ao Palácio de Cristal que albergava o I Congresso do CDS, em 1975. Nesse verão quente terá sido preso pelo COPCON, alegadamente por estar ligado à rede bombista do MDLP. Foi para Custóias, mas como só tinha 16 anos acabou libertado. “No dia seguinte entrei como um herói no liceu”, contou numa entrevista à Notícias Magazine.
Após serenar o fervor político, seguiu os caminhos do Direito, curso tirado em Lisboa ao longo de sete anos. Fez estágio de advocacia no escritório de Lopes Cardoso mas tratou de apenas um caso: o divórcio de um colega. Na década de 1980 foi trabalhar para o “Comércio do Porto”, onde se cruzou com Júlio Magalhães. Três anos depois, abandonou a histórica redação na Avenida dos Aliados.
"O Maestro"
Foi para o mundo da gestão e dos negócios, mas manteve-se sempre ligado aos media, com comentários televisivos ou artigos de opinião em variados meios de comunicação social. No jornal “T”, que ainda dirige, tinha o cognome de "O Maestro", alcunha que inspirou o nome da operação da Polícia Judiciária.
Saiu do jornalismo para, ganhando o triplo, ajudar na criação da Exponor, inaugurada em 1986. A ligação à Associação Industrial Portuense (atual AEP) foi o primeiro passo para entrar definitivamente no setor do associativismo empresarial, especialmente da moda e dos têxteis, através do Gabinete Portex. Foi vice-presidente da Associação Nacional de Jovens Empresários com o pelouro do Portugal Fashion.
Em 1992, após o fim do Gabinete Portex, Manuel Serrão transita para a Associação Selectiva Moda, entidade criada para promover e internacionalizar a indústria têxtil nacional e que está no centro da Operação Maestro. Torna-se o homem forte desta nova associação concebendo feiras e eventos emblemáticos como a Modtíssimo ou a Porto Fashion Week.
Uma voz tonitruante em defesa do Porto e do Norte
Defensor do F.C. Porto e do Norte, afirmou-se como uma voz tonitruante no panorama mediático nacional. Polémico e sem papas na língua, o seu estilo sarcástico e fanfarrão valeu-lhe um lugar no programa televisivo “A Noite da Má Língua” com Rui Zink, Miguel Esteves Cardoso e Rita Blanco. Após o fim do programa, vestiu a camisola azul e branca e continuou a ser presença assídua na televisão em programas de comentário futebolístico, tendo ficado célebres as suas picardias com o benfiquista Pedro Guerra.
É um assumido “bon vivant” que valoriza os prazeres gastronómicos, sejam eles os assados da Cozinha do Manel, no Heroísmo, a Marisqueira de Matosinhos ou as francesinhas do Capa Negra.
Festa tropical no Meridien para celebrar os 30 anos
Celebrou os 30 anos com uma memorável festa tropical no antigo hotel Le Meredien, na Avenida da Boavista. Perante dezenas de convidados trajados de calções, camisas havaianas e chinelos de dedo, o empresário garantiu que se reformaria aos 35. Não cumpriu a promessa, mas, mesmo no ativo, continuou a gozar a vida e os bons hotéis.
Manuel Serrão foi agora apontado pela Polícia Judiciária como sendo o “Maestro” de um alegado esquema de fraude na obtenção de milhões de euros em fundos comunitários. Trinta anos depois do previsto e forçada pela Justiça, a reforma pode estar aí à porta.