Bruno Rodrigues confessou esta terça-feira à tarde, no Tribunal de São Novo, no Porto, que ateou o fogo que matou a mãe, na casa que ambos partilhavam na rua de Monte Alegre, mas jurou que não era a sua intenção tirar-lhe a vida.
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O arguido, de 37 anos e desempregado, começou a ser julgado pelos crimes de homicídio qualificado e incêndio, cometidos na madrugada de 16 de novembro de 2022, bem como de violência doméstica agravada e extorsão na forma continuada.
“Nunca imaginei que fosse acontecer o que aconteceu, nem queria. Estou muito arrependido. Arrependimento que se manterá até ao final da vida”, disse Bruno Rodrigues, admitindo, porém, que ateou o fogo no quarto onde estava a mãe, de 68 anos, por esta lhe ter negado dinheiro para a droga. O arguido disse que, naquela altura, consumia diariamente haxixe e heroína e que, no dia da morte da mãe, tinha bebido vinho, cerveja e bagaço "desde a tarde" anterior.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), Bruno Rodrigues maltratava a mãe sempre que esta não lhe dava dinheiro para drogas, álcool e tabaco. No dia do crime, foi ao seu quarto, no sotão, e perante a recusa desta em lhe dar dinheiro empurrou dois armários que caíram sobre a mãe, barrincando-a. Depois, desceu ao rés-do-chão e, na cozinha, muniu-se de um frasco de álcool etílico, que usou para atear o fogo na divisão onde estava Maria Brito. O MP diz que, depois de ver as chamas propagarem-se "por todo o material acondicionado naquela divisão", o arguido desceu novamente as escadas e foi à cozinha, onde esteve a comer. Só quando ouviu a progenitora a chamá-lo é que se deslocou outra vez ao sótão, onde o fogo já se tinha alastrado a todo o quarto.
Esta terça-feira, o arguido, que está em prisão preventiva no Estabelecimento Prisional do Porto desde o dia em que foi detido, contou que a mãe lhe dava, "sempre de livre vontade", entre “500 e 600 euros” por mês para os vícios.
Além de Bruno Rodrigues, o tribunal ouviu ainda dois vizinhos, que atestaram as frequentes discussões entre mãe e filho, e um sapador que testemunhou que a “combustão era generalizada” e que, se não fosse a pronta intervenção dos bombeiros, o incêndio ter-se-ia propagado a toda a residência e até mesmo às habitações contíguas. Já a defesa arrolou o pai e um tio do arguido, que se mostraram disponíveis para o acompanhar na reinserção social, após uma eventual condenação, e ainda um amigo de infância, que assegurou que Bruno era "humilde e boa pessoa". O julgamento prossegue este mês.
Vícios
Segundo a acusação, Bruno Rodrigues era consumidor de heroína, cocaína e haxixe, desde os 14 anos, de bebidas alcoólicas, desde os 16, e de tabaco, o que obrigava a uma despesa diária superior a 15 euros.
Quadro de violência
Para convencer a mãe a dar-lhe dinheiro, diz o Ministério Público, o arguido "desferia cortes no seu próprio corpo, partia vários objetos que constituíam o recheio da residência comum, atirava livros, espelhos e outros objetos na direção da sua progenitora, atingindo-a em muitas dessas ocasiões, e anunciava que a matava".
Causa da morte
Segundo o relatório da autópsia, a morte de Maria Brito ocorreu como "consequência necessária e direta da intoxicação por monóxido de carbono, associada a lesões de queimadura dispersas pela superfície corporal e a lesões traumáticas meningo-encefálicas causadas por aquele incêndio e pelas pancadas perpetradas pelo arguido e pela queda dos móveis dos armários que ele empurrou sobre si".