Crime de Lalim: corpo do homicida da ex-mulher foi encontrado por populares no mato, a um quilómetro do local do crime. Ter-se-á suicidado dia 14.
Corpo do artigo
17.31 horas, Rua do Carvalho, Lalim, concelho de Lamego, sábado à tarde: o corpo de Henrique Carvalho, 63 anos, que vem amarrado a uma prancha rígida no teto da pick-up vermelha dos Bombeiros de Lamego, envolto num saco branco de transporte de cadáver, torna a passar no exato local da Rua do Carvalho, onde há 24 dias aquele homem matou com oito tiros, cara a cara, a ex-mulher Ana Maria Melo, de 56 anos, de quem não se queria divorciar. O corpo do homicida foi depois transferido para a ambulância dos Sapadores e seguiu para a morgue do Hospital de Vila Real, onde será sujeito a autópsia que apure a causa da sua morte.
Suicidou-se ainda no dia do crime, que foi cometido cerca das 8.30 horas da manhã do dia 14, em que Henrique, emboscado no mato, saltou, premeditado, ao caminho da ex-mulher que se dirigia para o trabalho, na fábrica dos Fumeiros Porfírio. O crime foi testemunhado por Alexandra Carvalho, de 37 anos, amiga da vítima que a acompanhava no caminho.
O suicídio sempre foi a tese privilegiada da Polícia Judiciária, que, no entanto continuava a efetuar buscas nas serras e matos à volta daquela vila. O corpo estava em estado muito avançado de decomposição e o revólver do crime estava ainda na mão do homicida, que foi encontrado a um quilómetro do local do crime, serra da Maia acima, caído sobre mimosas altas e silvados, junto a uma fraga de muito difícil acesso.
o pressentimento de Armando
"Finalmente isto ficou resolvido! É que a terra não tinha sossego há quase um mês! E nós é que o encontrámos. Fomos nós, os daqui", disse ao JN Armando Clemente, 57 anos, canalizador e presidente da Associação de Caçadores de Lalim. Foi Armando mais a Matreira, a sua cadela podenga que farejou o cadáver. Armando estava ainda acompanhado pelo presidente da Junta, Bruno Carneiro, e por Paulo Melo, sobrinho da vítima. Os três combinaram na noite anterior que era preciso fazer uma batida numa certa zona. "É que eu tinha um pressentimento, tive sempre, e decidimos que tínhamos que lá ir. É no monte, no terreno que era do avô do Henrique e fica junto a um terreno meu. Saímos às 10 horas, subimos no jipe com a cadela e à meia-hora achámo-lo, estava ali ainda com a arma na mão. E cheirava muito mal, um cheiro dos diabos, Jesus! O Paulo tinha o número da PJ, ligou, eles pediram para esperarmos lá, chegaram uma horita depois. Não custou nada ajudar, nós conhecemos bem isto. Devíamos era ter ido mais cedo".
A família da vítima, nomeadamente a irmã Belarmina e a mãe Ana Maria, que moram a escassos metros do local do crime, e que estavam debaixo do stress da inconclusão do caso, não quiseram prestar declarações. Um sobrinho disse só ao JN: "Estamos aliviados. Claro. Mas não vamos dizer mais nada. Só pedimos respeito pelo nosso luto".
CASAMENTO MARCADO POR VIOLÊNCIA
Ana Maria Melo terá sofrido a violência do marido, que era possessivo, ao longo do casamento. Em janeiro, divorciara-se de Henrique Carvalho. Desde então residia em casa dos pais. Dispunha de um botão de pânico, atribuído num processo de violência anterior, que fora suspenso com o seu acordo.