A Autoridade Tributária está a realizar buscas nos Estádios do Dragão, em Alvalade e na Luz. Em causa estão crimes de evasão fiscal numa investigação que já levou à constituição de arguidos de dezenas de pessoas ligadas ao mundo dos negócios do futebol.
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Houve buscas em casa de jogadores, como Odysseas Vlachodimos ou Chiquinho, ambos do Benfica. As mesmas diligências aconteceram em residências de antigos atletas do Sporting, que estiveram ao serviço do clube entre 2015 e 2017. No F.C. Porto, a casa de Alexandre Pinto da Costa, filho do presidente portista foi alvo de buscas.
O processo é dirigido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) e no terreno estão elementos da Direção de Serviços de Investigação da Fraude e de Ações Especiais. Foram realizadas 67 buscas em todo o país. Os investigadores procuram elementos de prova de desvios de dinheiro e ocultação de rendimento em contratos de transferências de jogadores.
O F. C. Porto confirmou que está a ser alvo de buscas da Autoridade Tributária (AT), tal como já tinham feito Benfica e Sporting à agência Lusa, afirmando que está a colaborar com a justiça. Os dragões, que confirmaram as buscas através de uma nota no seu site oficial, asseguram que estão prontos para "disponibilizar todos os elementos" que lhes sejam solicitados.
"Nos inquéritos investigam-se suspeitas de prática de crimes de fraude fiscal qualificada, fraude contra a segurança social e branqueamento de capitais, ligadas com celebração ou renovação de contratos de trabalho desportivo, pagamento de comissões e circuitos financeiros que envolvem os intermediários nesses negócios, bem como utilização de direitos de imagem", adiantou esta quarta-feira o DCIAP.
Sob investigação estão factos ocorridos de 2014 a 2022, com forte dimensão internacional. "Existem indícios de vantagens patrimoniais ilegítimas, fiscais e contra a segurança social, no valor global de mais de 58 milhões de euros", explica ainda o DCIAP.
Esta é uma megainvestigação que terá nascido de uma certidão da "Operação Fora de Jogo" que levou a um autêntico tsunami no futebol português, com a realização de perto de 100 buscas às SAD dos maiores clubes, de futebolistas, empresários, entre eles o superagente Jorge Mendes, e ainda de advogados.
Este inquérito, de 2015, nasceu de alertas do sistema bancário sobre movimentações de somas milionárias consideradas suspeitas. A Operação Fora de Jogo, já conta com mais de 130 arguidos e abrange um total de 500 milhões de euros de negócios.
A primeira parte da "Fora de Jogo" foi realizada em março de 2020 e incluiu 70 buscas que deram corpo às suspeitas da existência de prestações de serviços forjadas na intermediação na negociação de contratos de jogadores, quer na compra quer na venda.
O esquema passará pela introdução de terceiros no negócio, entre as SAD dos clubes, os jogadores e os agentes. Empresas, muitas vezes com sede no estrangeiro, passam faturas de prestação de serviços de intermediação que, para as autoridades, não existiram. Desta forma, artificialmente os custos do negócio são aumentados, o que faz diminuir o valor tributável em sede de IVA e IRC.
Em 2020, foram alvo de buscas Benfica, F. C. Porto, Sporting, Sp. Braga, V. Guimarães, Portimonense, Estoril e Marítimo. Tal como as residências dos líderes dos quatro grandes e casas e escritórios de Jorge Mendes. Esta semana, fruto da documentação e prova apreendidas na primeira operação, o MP avançou com nova ação visando o Braga e o Vitória, assim como as casas do antigo internacional Deco.