Quando Rui Pinto ainda estava em prisão domiciliária em Budapeste, na Hungria, a Autoridade Tributária (AT) tentou estabelecer uma colaboração com o alegado pirata informático.
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Queria saber se Rui Pinto tem informações sobre sociedades com sedes em paraísos fiscais ou sobre transferências bancárias em nome de testas de ferro que possam ser úteis para uma investigação em curso envolvendo o mundo do futebol. Um dos alvos é o agente de futebolistas Jorge Mendes, cuja empresa frisa ao JN não ter qualquer problema com o Fisco.
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De acordo com informações recolhidas pelo JN, o inquérito que corre na Direção de Serviços de Investigação da Fraude e Ações Especiais da AT estará a deparar-se com várias dificuldades para localizar contas em bancos offshore e obter outras informações que, eventualmente, poderiam ser do conhecimento de Rui Pinto. O português - recorde-se - assumiu a sua ligação à plataforma Football Leaks e a posse de segredos sobre clubes de futebol e pessoas com importância social e económica. O alegado hacker esteve, até, na origem de informações que resultaram em múltiplos inquéritos sobre alegados delitos fiscais - e não só - em vários países europeus.
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Contactada pelo JN sobre este caso, a sociedade do agente Jorge Mendes esclareceu através de fonte oficial que "a Gestifute, que tem as suas obrigações fiscais em dia, é inspecionada todos os anos e nunca teve nenhum problema com a Autoridade Tributária e assim vai continuar a ser".
Advogado organiza contactos
Os contactos de Rui Pinto com as autoridades judiciais e tributárias europeias têm sido organizados por intermédio do advogado francês William Bourdon, também ligado à defesa de outros denunciantes, como Julian Assange (do Wikileaks) e Edward Snowden (ex-funcionário da agência norte-americana NSA). Não foi possível confirmar a exata resposta de Pinto ao pedido da AT. E desde a passada sexta-feira o gaiense, de 30 anos, está em prisão preventiva, no âmbito do processo por crimes informáticos e de tentativa de extorsão ao fundo de investimento Doyen Sports, que motivou a sua extradição desde a Hungria.
Ainda assim, o JN soube que a colaboração proposta pelo Fisco português poderia servir apenas para obtenção de informação sobre eventuais circuitos financeiros, a fim de, posteriormente, ser obtida prova.
Sobre a investigação a Jorge Mendes e à empresa Gestifute, o Fisco mantém ainda uma parceria com a Agência Tributária de Espanha, cujo trabalho esteve na origem de acusações por crimes fiscais contra clientes do empresário. Todas estas investigações do Fisco espanhol nasceram a partir de revelações do Football Leaks - ou seja com informação fornecida por Rui Pinto.
De acordo com notícias já publicadas pelo JN, a AT está a verificar se os esquemas apontados em Espanha também foram usados por jogadores e treinadores que atuam ou atuaram nas competições nacionais e que são representados igualmente por Jorge Mendes.
Um esquema das offshores para os direitos de imagem poderá ter sido usado com alguns futebolistas que têm aparecido em campanhas publicitárias. Mas há outros sob investigação. É o caso de alegados prémios de assinatura ou duplos contratos que não são registados na Federação nem na Liga.
Clientes alvo de investigações tributárias
Vários clientes do agente de futebolistas Jorge Mendes têm sido alvo de investigações sobre matéria tributária por parte de autoridades estrangeiras. Foram os casos de José Mourinho, Cristiano Ronaldo, Fábio Coentrão, Di Maria, Ricardo Carvalho e Falcao. Os inquéritos foram instaurados após revelações do Football Leaks, por via de Rui Pinto, que invoca proteção ao abrigo do estatuto de denunciante ("whistleblower") de práticas ilícitas.