O presidente da Cruz Vermelha Portuguesa (CVP), Francisco George, é acusado de ter tomado decisões lesivas aos interesses da CVP e do hospital.
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Além de alegadamente ter afastado pessoas competentes, que lhe faziam frente, desde que assumiu funções, em 2017, a contestação à sua gestão está a subir de tom.
"A figura do dr. Francisco George e da equipa que representa é absolutamente incompatível com o futuro do Hospital da Cruz Vermelha. A sua presença põe em perigo a continuidade da nossa missão", denuncia a terceira carta subscrita por médicos, enfermeiros, técnicos e administrativos e enviada ao presidente da República, ao presidente da Assembleia da República, ao primeiro-ministro, e aos ministros das Finanças, da Defesa e da Saúde.
O documento garante que se criou uma "situação de rutura sem retorno" com Francisco George, que é também presidente não executivo do Conselho de Administração do hospital. É caracterizado como "incapaz" para ocupar aquela função, de ter um relacionamento de respeito e de criar uma equipa competente e experiente em gestão hospitalar.
de lucro a prejuízo de milhões
O grupo de profissionais denuncia ainda tentativas de despedimento compulsivo e ameaças de redução dos salários de médicos. "Todos os membros da administração anterior nomeados pelo dr. Francisco George demitiram-se e os administradores nomeados em 2018, pelo acionista CVP, causaram ao hospital o maior prejuízo da sua história".
Pelo que o JN conseguiu apurar, no ano de 2017, o lucro foi de 852 mil euros. No ano seguinte, registou um prejuízo de 203 mil euros, que aumentou para 3,86 milhões em 2019.
Diretor clínico do hospital, Manuel Pedro de Magalhães limita-se a comentar que está "completamente de acordo" com o teor das cartas. Preocupado com a instabilidade na unidade, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, disse ao JN que administração e profissionais deviam ser chamados com vista a um consenso. "O que se pede é que o Conselho Supremo resolva rapidamente esta situação. Se nada fizer, a tutela é do Ministério da Defesa".
Contactado pelo JN, o Ministério da Defesa remeteu para uma resposta à Lusa, em que alega que deve ser o Conselho Supremo da CVP a averiguar a gestão de George, porque à tutela apenas compete "verificar a legalidade dos atos". Contudo, não esclareceu se iria convocar uma reunião extraordinária desse órgão, como faz parte das suas competências.
"Esses problemas estão relacionados com uma crise de identidade, que tem como essência esta questão: o hospital deve dar uma resposta social à população da Grande Lisboa", argumenta Francisco George ao JN.
"Compreendo que esta orientação possa não agradar a todos os que reclamam no sentido contrário e que têm direito ao protesto e à indignação, mas a essência e o espírito da Cruz Vermelha não podem ser traídos".
Contratos lesivos comunicados ao Ministério da Defesa
As suspeitas de má gestão de Francisco George foram denunciadas numa outra carta, enviada ao ministro da Defesa, a que o JN teve acesso.
São dados exemplos de contratos celebrados pelo presidente da CVP, que terão lesado a instituição. No caso do aluguer do Palácio do Conde de Óbidos, George terá alegado, numa reunião de direção, que permitiria encaixar 800 mil euros/ano. Mas, quando foi celebrado, em agosto de 2019, o valor já era apenas de 150 mil a 175 mil euros.
Quanto ao espaço alugado para albergar o Centro Humanitário de Lisboa, a CVP passou a pagar sete mil euros/mês de rendas, quando nada pagava no Prior Velho.