MP acusou 33 membros de organização familiar, que arrombava paredes para furtar bacalhau, roupa e eletrodomésticos.
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Ao longo de quase três anos, 33 pessoas, muitas das quais unidas por laços familiares, realizaram 41 assaltos, em vários concelhos do Norte e Centro do país. Através de buracos feitos nas paredes de armazéns ou em lonas de reboques de camiões estacionados na rua, o grupo furtou centenas de quilos de bacalhau e peixe congelado, milhares de peças de vestuário e calçado, eletrodomésticos e até cadeiras de bebés e fraldas.
Tudo somado, o valor do material furtado pelo "gangue do buraco", posteriormente era leiloado ou vendido nas feiras e redes sociais, foi superior a 1,4 milhões de euros. O Ministério Público (MP) garante que o lucro obtido com a atividade criminosa foi ainda maior e pede que os arguidos sejam condenados a pagar ao Estado mais de 6,7 milhões de euros.
O pedido consta na recente acusação, na qual os 33 homens e mulheres, residentes no Grande Porto, foram indiciados de diferentes crimes de furto. Segundo o MP, todos integravam uma organização que, desde novembro do 2019, formulou "o propósito de se apropriar de bens, designadamente ouro, quantias monetárias, produtos têxteis, de latão e demais objetos" e implementou um plano que começou com a aquisição e furto de carrinhas de mercadorias, com capacidade para transportar uma grande quantidade de produtos. Depois, foram formados pequenos grupos responsáveis pela seleção do local a assaltar e pela vigilância das rotinas dos funcionários da empresa escolhida. A informação recolhida era analisada numa quinta de São Pedro de Fins, na Maia, num bairro de Rio Tinto, Gondomar, ou na sede de um clube de Leça do Balio, em Matosinhos, e, logo de seguida, os operacionais avançavam para o terreno.
Repartição "à vista de todos"
A coberto da noite, os assaltantes arrombavam os portões dos armazéns e, em muitos casos, optavam por fazer um buraco na parede do edifício, pelo qual retiravam o material. Noutras situações, os alvos eram camiões estacionados na rua ou em parques de empresas, cujas lonas dos reboques era cortada para que os produtos fossem carregados para as carrinhas dos assaltantes que, depois, dirigiam-se a uma quinta de São Pedro de Fins. Aqui, o material furtado era dividido por lotes e leiloado pelos membros da organização e possíveis compradores.
O MP acrescenta que muitos artigos chegaram a ser repartidos em feiras, "à vista de todos", e vendidos logo de imediato. A comercialização do material furtado acontecia, igualmente, através do Facebook e da venda direta a comerciantes. Por exemplo, nove de 107 cadeiras de retenção para bebé furtadas em Oliveira de Azeméis foram vendidas aos donos de uma loja, situada em Guimarães. Comprada por 75 euros, cada cadeira foi posta à venda por mais de 300 euros.
Cadeados, calças e cosméticos
O primeiro assalto do "gangue do buraco" foi cometido em novembro de 2019, quando o grupo furtou uma Renault Master, carregada com material eletrónico, de um armazém de Gondomar. O assalto rendeu 96 mil euros, bem mais do que os 14 mil euros arrecadados com o último furto, cometido em 4 de julho do ano passado, numa empresa de Santa Maria da Feira, que ficou sem milhares de cadeados e chapas de latão.
Pelo meio, uma empresa de Ermesinde foi duas vezes assaltada. À primeira, furtaram-lhe cem quilos de bacalhau e marisco, no montante de 103 mil euros. E da segunda vez ficou sem várias caixas de peixe congelado, avaliadas em 45 mil euros. Já de uma lavandaria de Guimarães foram furtadas duas mil calças de ganga (90 mil euros), enquanto de dois camiões estacionados em Mindelo, Vila do Conde, foram retirados 261 mil euros em sapatilhas da marca Givenchy e 102 mil euros em roupa da Zara.
Só uma empresa têxtil de Guimarães sofreu um prejuízo de 250 mil euros com um furto levado a cabo por uma organização, que furtou ainda artigos cosméticos avaliados em 259 mil euros, guardados num camião parado numa empresa de Perafita, Matosinhos.
Pormenores
Instrução
Os arguidos contestam a acusação e requereram a abertura de instrução. O processo está, desde janeiro deste ano, no Tribunal de Instrução Criminal do Porto.
Operação da PSP
Um dia depois do último furto, a PSP montou uma operação para deter os principais elementos da organização. Treze continuam em prisão preventiva.
Cadastrados
Vários dos detidos já contam com cadastro pelo mesmo tipo de crime. Aliás, o MP salienta que três dos arguidos começaram a assaltar armazéns e camiões pouco tempo depois de sair da cadeia em liberdade condicional.