Centro de Formação tornou-se numa escola de desperdício após surto de gastroenterite. Refeições enchem diariamente os contentores.
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Todos os dias há dezenas de quilos de alimentos deixados no lixo no Centro de Formação de Portalegre da GNR. A Unidade serve em média cerca de 1350 refeições diárias aos alistados, aos militares e aos civis que ali se encontram. O que sobra vai para o lixo. A medida surgiu após a auditoria feita pela Unidade de Saúde Pública de Portalegre da Unidade Local de Saúde do Norte Alentejo (USPP/ULSNA), na sequência do surto de gastroenterite que ocorreu naquele centro em outubro de 2018.
De acordo com uma fonte contactada pelo JN, "o pão que sobra das várias refeições, ou que não chega à mesa, o peixe e a carne que são confecionados todos os dias e não são servidos, ou a sopa que sobra são deitados nos contentores do lixo à espera de serem recolhidos pelos serviços camarários da Câmara de Portalegre". Esta situação já dura "há vários meses".
O JN questionou o Comando Geral, não tendo obtido qualquer resposta. E perguntou às técnicas de saúde da USPP/ULSNA se tinham dado indicações ao Comando para levar para o lixo os alimentos que sobravam. As técnicas limitaram-se a responder que "não emanaram ordens para o quartel da GNR, até porque não é função das mesmas".
Servia para os animais
Ao que o JN conseguiu apurar, até então os restos do pequeno-almoço, do almoço e do jantar eram depositados em bidões de plástico e posteriormente recolhidos todos os dias à noite e destinados a uma exploração suína situada na localidade de Carreiras, Portalegre.
Aquando da auditoria da USPP/ULSNA, "foram detetadas várias situações anómalas no que diz respeito à atuação dos funcionários da empresa que efetua serviços de limpeza na zona da cozinha/copa", refere outra fonte. "Locais com falta de higiene ou efetuada de forma deficiente, colaboradores da empresa de limpeza sem curso de segurança e higiene alimentar ou outro tipo de formação que os habilite a manusear alimentos ou utensílios para alimentação e esfregonas em mau estado foram alguns dos problemas detetados", especifica.
Após a auditoria da USPP/ ULSNA, continuou a mesma fonte, "o acesso à cozinha tornou-se restrito, só sendo autorizada a entrada na mesma a determinadas pessoas e com equipamento próprio". Foi igualmente "proibida a entrada e a confeção de alimentos que não tenham sido inspecionados".
No entanto, revela outra fonte ao JN, e apesar de tantas restrições à cozinha, "no passado dia 16 de dezembro, os alistados do 41.º curso foram autorizados superiormente a levar e a confecionar alimentos trazidos das suas terras natais para o "jantar das regiões". Sem qualquer tipo de controlo". Nesse dia, conta a mesma fonte, "a cozinha foi 'invadida' por cerca de 50 guardas provisórios e as sobras dos alimentos confecionados ficaram em cima das mesas e foram consumidas no dia seguinte no almoço de Natal da Unidade", contrariando todas as indicações. Uma delas passa por "guardar amostras de todas as refeições, em refrigeração, durante 72 horas", refere outra fonte.
AGRESSÔES
Polémica do "Red Man" investigada desde 2018
O Centro de Formação de Portalegre ficou célebre na sequência do módulo "curso de bastão extensível", entre 1 de outubro e 9 de novembro de 2018. Os recrutas foram violentamente espancados por um formador denominado "Red Man" (homem vermelho), com luvas de boxe, chumaços, caneleiras e capacete, em superioridade face dos indefesos recrutas, a lutar de calças e t-shirt e com um mero bastão de plástico (PVC). Alguns formandos ficaram com mazelas oculares e correram o risco de perder a visão. O MP instaurou inquérito-crime, que ainda decorre sem arguidos constituídos.