Ex-atleta do Sporting acusado de pertencer a grupo de seguranças que reinava na noite de Torres Vedras. Polícia estará implicado na compra e venda de armas.
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Agressões, rapto, sequestro, extorsão, roubo, coação agravada, segurança ilegal, denúncia caluniosa, fotografia ilícita e falsificação de documentos, falsas declarações, falsidade de testemunho e violação de dever de sigilo. São estes os crimes de que estão acusados um total de 27 arguidos que começam a ser julgados no próximo dia 15, no Tribunal de Loures. Entre eles estão um campeão mundial e nacional de kickboxing, além de seguranças, empresários e elementos da GNR e da PSP que terão ativamente participado e encoberto as atividades do grupo que reinou na noite de Torres Vedras entre 2015 e 2017.
Foi a Unidade Nacional de Contraterrorismo da Polícia Judiciária que começou a investigar o grupo na sequência de denúncias por agressões ocorridas em espaços de diversão noturna na zona de Torres Vedras. Havia clientes violentamente agredidos e sequestrados dentro das discotecas, só sendo libertados depois de garantirem que não iriam apresentar queixa às autoridades. Os crimes seriam praticados por seguranças ilegais, mas também por Ricardo Fernandes, ex-atleta de alta competição do Sporting, que ganhou muitas medalhas ao serviço da seleção nacional de kickboxing.
Guarda recusa queixas
Segundo a acusação do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, o primeiro caso de agressão aconteceu a 18 de abril de 2015, junto da discoteca "Mau Maria" e envolve o segurança Hélio Filipe e o GNR João Paulo Silva. O primeiro expulsou um cliente do bar e quis "fazer-lhe a folha". Com a cumplicidade do guarda terá colocado uma pistola ilegal no carro do cliente, fazendo com que fosse detido por posse de arma e também espancado, por ter supostamente resistido.
No mesmo ano, na discoteca "Faraó", o mesmo Hélio e o campeão de kickboxing terão recebido ordens do gerente para dar uma lição a um cliente que teria furtado garrafas de bebidas alcoólicas. Foi espancado com joelhadas, estaladas, socos e pontapés. Ficou sequestrado durante duas horas e ainda lhe roubaram o telemóvel com que o fotografaram ensanguentado.
De acordo com a acusação, ainda lhe apontaram uma pistola e só quando se aproximou uma patrulha da GNR é que o libertaram. Ainda assim, a GNR não interveio, mas a vítima deslocou-se ao posto, onde já estava o gerente do "Faraó".
No posto da GNR de Santa Cruz, o ofendido foi impedido de entrar e "foi-lhe recusada a formalização da queixa", lê-se na acusação, que descreve uma dezena de casos de encobrimento que envolvem também a PSP. Um polícia está implicado também na compra e venda de armas de fogo e terá fornecido bastões extensíveis a seguranças e também a agentes.
Safava amigos de multas de trânsito
Um GNR de Mafra, de 47 anos, também irá responder no mesmo processo. A investigação apurou que o militar publicitava que era capaz de livrar as pessoas de multas de trânsito e das sanções acessórias. Através do sistema informático da GNR, escolhia o nome e dados de condutores alheios. Depois, produzia requerimentos que dirigia à Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), em nome dos amigos que tinham sido alvo de multas. Lá, fazia constar o nome da pessoa que tinha encontrado no sistema da Guarda. Assim, a ANSR abria um novo processo contra um condutor que nada tinha a ver com a multa. O militar, que está tal como os outros polícias acusados suspenso de funções, é acusado de dezenas de crimes de falsas declarações e corrupção.